“A igualdade de pagamento mostra que fazemos e arriscamos o mesmo que os homens”

Falámos com Tatiana Weston-Webb, havaiana que este ano passou a competir pelo Brasil e está na terceira posição do ranking mundial, sobre a decisão da WSL em atribuir os mesmos prémios monetários a homens e a mulheres. No final do seu último heat no primeiro evento oficial numa piscina de ondas artificiais, a surfista garantiu que "ninguém sabia de nada" e que a igualdade de pagamento "vai melhorar as performances de toda a gente".

Na água estava o evento mais artificial, improvisado e, a bem do rigor, inusitado do circuito mundial de surf: um parque de ondas construído longe do oceano, a qualquer coisa como 100 quilómetros da água salgada, no interior da Califórnia, para dar consistência robótica ao que a natureza torna inconstante e bonito. Foi, durante o fim de semana, a primeira prova oficial organizada fora do mar pela World Surf League (WSL); mas também foi a estreia de outra coisa.

As mulheres que surfaram nas mesmas ondas, sob as mesmas condições que os homens, sabiam que, a partir da próxima época, iriam receber o mesmo valor de prize money (prémios monetários) que eles, em todas as provas.

Queríamos, portanto, conversar com uma surfista sobre a novidade, que histórica é por a WSL ter sido a empresa pioneira - sediada nos EUA e, portanto, parte integrante do desporto americano - a garantir a igualdade de pagamento.

Conversámos com o departamento de comunicação da WSL, a petição foi bem recebida e, ao contrário do que aconteceria se a competição estivesse dependente da boa-disposição do oceano, marcou-se uma hora.

Porque as ondas e os heats no rancho do surf são um tempo de vida certo, apenas à mercê de máquinas e botões, e à hora marcada estava Tatiana Weston-Webb, a terceira classificada do ranking mundial feminino, bem na luta pelo título do outro lado do telefone.

Tatiana nasceu em Porto Alegre, sul do Brasil, de onde saiu como bebé de três meses, com pai inglês e mãe brasileira, para Kauai, ilha no Havaí onde cresceu e pela qual competiu até abril, quando anunciou que passaria a surfar pela nação da progenitora.

É por aí que capaz é de dizer, em bom português de sotaque brasileiro, que está “muito feliz pela igualdade de pagamento”, decisão que encara como “uma prova de que a WSL acredita" nas mulheres.

A surfista, de 22 anos, releva que a decisão, para lá do dinheiro, deu força a algo que “vale muito” para Tatiana: “Serviu para mostrar que nós fazemos o mesmo, e estamos a arriscar o mesmo, do que os homens”.

As 18 surfistas que integram o circuito feminino, assegura, “não tinham ideia” da iminente decisão da WSL. Uma vez chegadas ao Surf Ranch, em Lemoore, na Califórnia, a entidade reuniu-as na mesma sala para anunciar a decisão. “Foi uma grande surpresa, disseram-nos um dia antes do campeonato começar, estávamos todas juntas e ninguém estava à espera”, resume.

Tatiana Weston-Webb explicou, quase forçando um pouco as palavras, à custa - a conversa decorre minutos após o seu último heat no evento, que acabou no 12º lugar -, que a novidade “vai melhorar as performances de toda a gente”, devido “aos maiores incentivos”, embora talvez não tanto em surfistas americanas, sim mais em “atletas vindas de outros países, onde o surf não gera tanto dinheiro”.

Para o surf feminino, a decisão, anunciada a 6 de setembro, significará um aumento em 153% de prize money a atribuir, por evento, na próxima temporada.

Em 2018, o prémio que um surfista recebe caso conquiste uma prova está fixado nos 100 mil dólares, o equivalente a cerca de 86 mil euros, enquanto que uma surfista recebe 65 mil dólares, ou quase 56 mil euros.

A surfista acredita que a igualdade nos pagamentos “fará a diferença para estimular todas as surfistas” a “vencerem provas”. E mais não ficámos a saber, porque o tempo, na ressaca da saída da competição, tornou-se parco para alongar mais a conversa - mas o tempo mostrará, crê Tatiana Weston-Webb, como esta decisão vai mudar para melhor o surf feminino.


FONTE: TribunaExpresso