Benfica: então, e que tal essa cynodon dactylon? (uma crónica com relva lá dentro)

Os encarnados bateram o Tondela por 1-0, com golo de Ferro num canto batido por Grimaldo, numa das pouquíssimas oportunidades criada pela equipa de Bruno Lage. O treinador, que apontara o relvado para justificar lesões e também exibições menos conseguidas, foi mudado a mudar o onze por força das ausências de Rafa e de RDT. Friamente, correram-lhe bem as coisas, pois os três pontos são do Benfica. Analiticamente, o SLB continua num estranho e apático momento de forma. Salvaram-se Gabriel, Rúben Dias e Chiquinho, que sacudiu, mais ou menos, o jogo na segunda-parte com os dois únicos remates das águias nesse período.

Sobre o tema da relva:

Dediquei-me a uma pesquisa internética que devolveu os resultados que passo a nomear: cynodon dactylon, pennisetum clandestinum, zoysia japonica, lolium perenne, festuca arundinacea, poa pratensis, paspalum notatum; a lolium perenne é a mais usada nos jardins caseiros e a cynodon dactylon a mais adequada para relvados de futebol porque, diz-se, resiste a pisadelas, e assim.

Se for bem tratada, é um tapete; se não for, é o cabo dos trabalhos, ou uma escorregadela inesperada no chuveiro, como Bruno Lage disse a propósito das lesões complicadas de Rafa e de Chiquinho. Lage também disse que o Benfica andava a jogar piorzinho na Luz devido ao mau relvado, por oposição ao bom velho relvado, substituído no verão após dois concertos de Ed Sheeran. O treinador dos encarnados afirmou que a bola rolava pior.

Bom, não tendo ido a Tondela - e não sendo de todo um especialista ao nível da jardinagem - estou em condições de garantir em segunda mão que a relva do Estádio João Cardoso pareceu praticável para a prática da modalidade. E, no entanto, o Benfica jogou assim-assim, mais para o menos do que para o mais, apesar de ter chegado marcado cedo, numa bola parada: Grimaldo converteu um pontapé de canto a que Ferro acudiu com pontaria e potência para fazer o seu primeiro golo na Liga. Antes, é verdade, Pizzi rematara de um ângulo complicado para uma defesa de Cláudio Ramos, mas, na realidade, o Tondela teve mais oportunidades do que o Benfica, algumas esbarradas em Vlachodimos, outras na ineficácia beirã.

Perante as ausências de Rafa (lesão problemática) e de Raúl de Tomás (lesão de última hora), Lage pôs Cervi à esquerda, Pizzi à direita, e Taarabt à frente de Gabriel e de Florentino e atrás de Seferovic. Um 4x4x2 mal disfarçado de 4x2x3x1, porque Taarabt raramente conseguiu ser o segundo avançado ou o número 10. Do outro lado, Natxo quis apostar na defesa e no contra-ataque de (5x4x1), povoando a defesa e o meio-campo defensivo com gente suficiente em número para impedir o jogo interior em encarnado. Assim foi na primeira-parte, em que o Tondela saiu a perder por falha de marcação a Ferro e também por culpa de Xavier e Denilson, pouco expeditos em frente à baliza.

O Benfica, com maiores responsabilidades neste jogo, tinha de mexer alguma coisa para evitar surpresas desnecessários. Começou pela intensidade: mais pressionantes, os encarnados não deixaram ao Tondela o mesmo tempo para pensar os seus contra-ataques, controlando, assim, melhor o curso do jogo. Depois, veio a troca: saiu Taarabt e entrou Chiquinho, percebendo-se que o português é melhor a fazer de João Félix do que o marroquino, e o Benfica tornou-se mais imprevisível e perigoso.

Obviamente, a isto juntou-se o risco que Natxo quis correr ao deixar de defender com cinco (entrou o avançado Richard para o lugar do central Philipe Sampaio), sobrando menos gente para dobras nos lances individuais perdidos. Foram de Chiquinho dois remates à baliza nos segundos 45’, aos 77’ e aos 95’, como que a validar as ideias do treinador.

O problema é que também foram os únicos remates do Benfica neste período, perante um Tondela que insuflou o peito com as substituições e partiu à procura de algo mais do que apenas fazer boa figura diante do campeão nacional. Não fossem os equilíbrios e a matreirice de Gabriel, e dois bons cortes de Rúben Dias pelo chão, possivelmente estaríamos aqui a contabilizar os primeiros pontos perdidos pelo Benfica em treze jogos consecutivos jogados fora da Luz, na Liga.

Fica a pergunta: a culpa é da cynodon dactylon?


FONTE: TribunaExpresso