Cori Gauff, o novo fenómeno precoce do ténis por quem o US Open ignora as regras

A suíça Martina Hingis era um poço sem fundo de talento precoce, vindo sabe-se lá de onde, que a tornou coleccionadora-mor de recordes por ter sido a mais nova tenista a fazer uma série de façanhas: tinha 14 anos há duas semanas quando, em 1994, bateu a primeira bola no circuito ATP, com 15 anos e nove meses ganhou, em pares, um Grand Slam, na relva de Wimbledon.

Aos 22, já com idade para não se ter que ralar com as bebidas alcoólicas e a lei nos EUA, os tendões nos joelhos obrigaram-na a retirar-se. Entre 40 títulos em singulares, já tinha os sete majors da carreira conquistados.

A americana Jennifer Capriati, outra imberbe fantástica de raquete na mão, era uma recém-adolescente, acabada de entrar nos teen years, quando, em 1990, se estreou em torneios ATP. Tinha 13 anos e 11 meses. Aos 14 foi semifinalista em Roland Garros e com 235 dias em cima desse número de anos de vida tornou-se a mais jovem tenista a entrar no top-10 do ranking. Aos 16 anos levou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona.

Com 18, decidiu carregar no botão de pausa do ténis. Durante 15 meses não foi avistada nos courts, mas foi notícias pelos desvarios errantes em que a polícia a apanhou: roubou um anel de uma joalharia e detida foi por estar em posse de marijuana. Depois, chegou a dar entrada em clínicas de reabilitação. Tropeções num percurso que a devolveria ao ténis para, em 2001, conquistar o Open da Austrália e Roland Garros.

Os ossos, ligamentos e tendões de Hingis minaram-lhe a carreira que, já em fase pôr-do-sol, em 2007, teve um teste positivo por cocaína num controlo anti-doping. A vida de Capriati nas horas em que não estava a jogar ténis tremeu-lhe a constância no percurso desportivo.

Apesar dos títulos, feitos e conquistas que apareceram, por comum bom-senso, antes do tempo previsto, elas são dois casos geniais de precocidade - como o foram Monica Seles, Steffi Graff, Gabriela Sabatini ou Arantxa Sánchez Vicario, todas donas de um Grand Slam antes do vigésimo primeiro aniversário.

Todas terão contribuído para que, em 1994, a WTA criasse umas regras especiais para tenistas aventureiras no circuito antes de o cartão de cidadão as reconhecer como adultas. Regras a que Cori Gauff não obedece, bom, porque os torneios do Grand Slam ainda fazem o que lhes apetecer.

A Age Eligibility Rule criou-se para que tenistas com menos de 18 anos tenham o número limitado de torneios que possam jogar. O objetivo de base era evitar a sobrecarga, o stress competitivo, o peso de um calendário completo e a pressão, muitas vezes empurrada pelos pais, nas vidas de jogadoras adolescentes. As tenistas citadas em cima brilharam e ganharam quando ainda eram rapariga, mas todas se retiraram, mesmo que provisoriamente, antes de chegarem aos 30 anos.


FONTE: TribunaExpresso