Tomic perde por dinheiro, mas Wimbledon não lhe pagará um tostão “por falta de esforço”

A reputação de Bernard Tomic ser um bon vivant, enamorado por um estilo de vida ornamentado pelos milhões que ganha, não é de agora. O australiano era um prodígio do ténis na adolescência - ganhou mais de 90 torneios antes de virar profissional -, mas há muito que não parece importar-se com o talento que desperdiça. E, agora, Wimbledon retirou-lhe 50 mil euros de prémio de jogo por não se esforçar na derrota contra Jo-Wilfried Tsonga, que demorou 58 minutos a aparecer.

O verde da relva, muito bonito no primeiro dia ou dois, os tenistas e as tenistas, todos aprumados e aprumadas de branco para obedecerem ao protocolo. Wimbledon é um torneio que se preocupa mais com a tradição do que com tudo o resto e, como Grand Slam que é, os homens jogam à melhor de cinco sets. É lógico esperar encontros mais longos do que é costume, a roçarem facilmente as duas horas, a fazerem valer a pena que se pague por um bilhete.

Não é expectável, de todo, que um jogo com três sets garantidos acabe ao fim de 58 minutos. Mas foi o que aconteceu entre Tomic e Tsonga.

Nem uma hora de resistência havia no tanque de Bernard Tomic. O era-uma-vez-um-prodígio do ténis australiano, que a imprensa do país tem apelidado, nos últimos tempos, de "Tomic, The Tank Engine". A alusão ao veículo militar não vem do significado literal, é antes usada na língua inglesa como uma expressão para quem, no fundo, se está nas tintas para um certo resultado e o acaba por sabotar. Em prejuízo próprio, contrariando tudo o que é o desporto e a competição.

Bernard Tomic perdeu por 6-2, 6-1, 6-4 contra Jo-Wilfried Tsonga na primeira ronda de Wimbledon e, vendo bem as coisas, era esperado que perdesse, nem que fosse pelo contexto: o australiano é o 96.º do ranking ATP e ia jogar contra o 72.º tenista dessa hierarquia. Assim que se bateram as primeiras bolas do jogo, o desfecho só podia ser esse.

O australiano movia-se com uma letargia auto-imposta. Apenas atacava as bolas que caíam perto dele, ou à distância de um braço esticado. Não corria atrás de pontos. O "Daily Telegraph" comparou a sua postura no encontro a uma "preguiça geriátrica". O comentador da BBC que narrou o jogo afirmou já ter visto "partidas mais competitivas no [seu] parque público local".

Tsonga ganhou o primeiro set em 18 minutos, o segundo em 17 e o último em 23 minutos. Foi o 21.º jogo mais rápido da era Open do ténis (quando os Grand Slams autorizaram que amadores jogassem com profissionais), que começou em 1968.

Foi o segundo jogo mais curto, em Wimbledon, desde 2002, quando o torneio começou a registar o tempo dos jogos. O recordista, por comparação, foi um encontro em que um Roger Federer na flôr da idade atropelou Alejandro Falla em 54 minutos, sendo que a causa terá sido, por certo, haver uma lenda em modo killer a jogar na sua superfície preferida.

Não foi o que sucedeu com Bernard Tomic. "Acho que joguei o melhor que pude. Mas joguei terrivelmente. Sabia que, se não me sentisse bem, perderia o jogo rapidamente. Jogámos muito rápido", afirmou, no final, feito quase um encolher de ombros ambulante. A verdade é que o juiz de cadeira e a organização de Wimbledon não concordaram.

O torneio decidiu retirar-lhe as 45 mil libras (perto de 50 mil euros) de prémio de jogo, pagas a qualquer tenista que perca na primeira ronda, por "uma falta de esforço" - e porque, na opinião do árbitro, Tomic "não teve uma prestação adequado ao exigível nível profissional". O jogador pode contestar a decisão e apresentar um recurso.

O mesmo jogador que, há dois anos, também em Wimbledon, foi multado em 15 mil libras por admitir que "estava aborrecido" e fingiu uma lesão a meio do encontro frente a Mischa Zverev, que acabaria por perder. O mesmo desleixado tenista que, em 2016, defendeu um serviço, contra um match point, a segurar na raquete ao contrário e, no final, respondeu assim aos jornalistas: "Não me importa esse match point. Se tivesse 23 anos e valesse mais de 10 milhões de dólares, importar-se-ia?

Bernard Tomic está com 26 anos e parece importar-se cada vez menos.


FONTE: TribunaExpresso