Bruno Alves: «Os treinos no FC Porto eram uma autêntica guerra»
Se este fosse um ano normal, Bruno Alves não estava a jogar futevólei e a mergulhar no mar da Póvoa de Varzim antes de falar em exclusivo ao Maisfutebol. Mas este não é um ano normal. Esta é a primeira vez, desde 2006, que o defesa central de 37 anos não está nos convocados de Portugal para uma grande competição de seleção.
Bruno nasceu na Póvoa, cresceu na Póvoa, formou-se nas areias da Póvoa e no final da adolescência foi contratado pelo FC Porto. Bas boleias na bicicleta de Hélder Postiga à proteção de Paulinho Santos, da guerra nos treinos no Olival à expulsão num célebre clássico contra o Benfica. Bruno não deixa nada por contar.
Maisfutebol – Nasceu na Póvoa, jogou no Varzim até aos 17 anos e mudou-se para o FC Porto. Ainda se lembra dessa sua primeira transferência?
Bruno Alves – O culpado foi o João Pinto (risos). No meu primeiro ano de júnior fui jogar contra o FC Porto, que era treinado pelo João Pinto, e ele gostou do que viu em mim. Convenceu-me a ir para o Porto, fiz lá o segundo ano de júnior e passei para a equipa B. Ainda joguei no Farense, no V. Guimarães, no AEK e depois agarrei um lugar no FC Porto em 2006, com o Co Adriaanse. Mas quem mudou a minha forma de jogar foi o Jesualdo Ferreira, que é mesmo um professor. Mudou a minha mente, estabilizou-me, foi essencial para o meu crescimento.
MF – Começou no futebol muito cedo, até por ter em casa um pai que foi futebolista e treinador?
BA – Sim, vivi rodeado de futebol desde bebé. Lembro-me de tanta coisa aqui na Póvoa. Não me esqueço da amizade com o Hélder Postiga. Ele vinha das Caxinas de bicicleta, apanhavam-me em casa – eu morava perto do Casino da Póvoa – e íamos juntos na mesma bicicleta até ao treino. O Postiga foi para o FC Porto nos iniciados e eu nos juniores.
MF – O Postiga foi essencial na sua adaptação ao FC Porto?
BA – Ele e o Paulinho Santos. Protegia-nos muito, por ser aqui da nossa zona. O Porto tinha um balneário forte, com gente que impunha respeito, mas o Paulinho dizia que eu e o Postiga éramos os miúdos dele: ‘vai, chega-lhe forte, chega-lhe forte que eu estou aqui’. Mandava jogar durinho, dar porrada. Esses treinos no FC Porto eram fantásticos, eram uma guerra. Ganhávamos jogos no treino anterior.
MF – O seu pai era um guerreiro no campo e no FC Porto ainda havia Jorge Costa, Pepe, Ricardo Costa… o Bruno teve bons professores.
BA – E o meu ídolo de infância era o Fernando Couto (risos). Tenho o temperamento do meu pai e ele foi o meu primeiro treinador. E no FC Porto havia a passagem dessa imagem de raça, de agressividade. Depois o futebol mudou, há muitas trocas de atletas e a atmosfera é diferente. Mesmo o treino, agora, é mais protegido. Não é como dantes. Eu treinei também muitas vezes com o meu pai na praia, à parte. Mesmo na altura do FC Porto. Acredito no treino individual, eu não posso ter o mesmo tipo de treino que um avançado tem. Por isso conciliava o treino no clube com o trabalho dado pelo meu pai.
MF – Lembra-se da sua estreia na equipa principal do FC Porto?
BA - Hmmmmm… sinceramente não me lembro.
MF – 18 de setembro de 2005, 0-0 num Sp. Braga-FC Porto.
BA – Com o Co Adriaanse, é isso. Já não me lembrava, mas o Adriaanse deixou-me saudades. Era um homem que adorava treinar bem, a qualidade dos treinos dele era fantástica. Apostou em mim e só saí da equipa porque fui expulso contra o Benfica. Ele mudou aí, mas explicou-me as opções, foi sempre frontal comigo. Ele mudou para três defesas, a equipa estava muito bem e passei a jogar menos vezes. O Pepe começou a jogar a um grande nível.
MF – Jogou vários dérbis e clássicos: Portugal, Turquia, Escócia… qual foi o mais quentinho?
BA – Para mim, nada se compara ao FC Porto-Benfica. Vem de dentro, tem sentimento. É impossível perceber o que significa um dérbi se não fores daquela zona. O Old Firm é impressionante, mas ainda mais para os escoceses. Quando eu fui expulso por ter ido para cima do Nuno Gomes… tinha de ser. Não podia perder no jogo – e estava 2-0 para eles – e na porrada. Então ficou 1-1, vamos dizer assim (risos). Não é fácil aceitar uma derrota em casa contra o Benfica, não pode ser. Os adeptos não aceitam e nós, jogadores, também não. O ambiente fica pesado.
Fonte: MaisFutebol