“Num treino, o Kasper defendeu três bolas com o estômago e estava com apendicite. O meu filho não é um fracote, é um lutador”

Aqui está Peter Schmeichel falando sobre Kasper Schmeichel, o filho que também se tornou guarda-redes, campeão inglês e titular da seleção dinamarquesa.

Como é ser pai do Kasper Schmeichel?

Quando era muito miúdo, o Kasper não tinha vontade de ser futebolista profissional. Porque o futebol tinha-lhe levado o pai durante muito tempo. Mas ele adorava ir treinar connosco. Tenho um filme com ele, pequenino, em Manchester… Os jogadores adoravam-no, loirinho, simpático. Ele cresceu com esse ambiente. O Kasper é um tipo duro, isso posso garantir-te. Por exemplo, saí do Sporting e fui para o Aston Villa e combinei com a família: é só mais um ano e vocês vão todos para a Dinamarca viver. Então, vivi sozinho durante esse ano e eles, claro, viajavam para Inglaterra em alguns fins de semana e, obviamente, no Natal. Como sabes, em Inglaterra, joga-se no Natal, e na véspera de manhã, no treino, o Kasper estava meio em baixo, mas não doente. Levei-o comigo para o treino e pedi ao treinador para que o Kasper fosse um bocadinho à baliza. Sabes como é, Natal e assim. E o Kasper lá foi e correu-lhe muito bem. Se falares um dia com o Juan Pablo Ángel [ex-futebolista colombiano] ele contar-te-á que teve três lances de um-contra-um com o Kasper e que ele defendeu os três com o estômago. Mas a história nem é esta.

Então?

Bom, fomos para casa, preparar o jantar da Consoada, e o Kasper prostrado no sofá, pálido. Pensei que fosse da viagem e do treino, mas ele piorou. Liguei à minha mãe: “Isso é apendicite”. Ela tinha sido enfermeira, só que os médicos do clube já o tinham visto e o diagnóstico não era esse. Liguei para o médico do clube: “Olha, acho que pode ser apendicite”. Cinco minutos depois, estava no hospital com o Kasper para ser operado. Portanto, ele treinou com apendicite. Lembro-me sempre disso. O Kasper lutou durante muito tempo, até aos 24, por ser filho de quem é. As pessoas nunca acreditaram no potencial dele, mas eu tinha confiança e conforto na capacidade lutadora dele. Ele não é um fracote, é duro, se tiver de lutar, luta; tens de trabalhar.

Portugal foi importante para ele?

Claro, foi o primeiro clube dele e de cada vez que for transferido, o Estoril recebe mais algum dinheiro [risos]. Mas o Estoril não tinha boas instalações. Muitas vezes, o treino era na praia, o que não é ideal, obviamente. E jogavam muito, muito longe do Estoril. Acredito que isso o tenha tornado também mais forte.


FONTE: TribunaExpresso