O futebol são onze contra onze e no final Messi resolve
Ninguém o diria ao olhar para o resultado, mas o Liverpool até foi superior ao Barcelona, em Camp Nou, na 1ª mão das meias-finais da Liga dos Campeões. Só que quem tem Messi tem tudo - e foi assim que o Barcelona venceu 3-0.
Para explicar o que se passou esta quarta-feira à noite em Camp Nou, basta parafrasear um homem chamado Pep Guardiola, que sabe bem do que fala, não só porque passou quatro anos com ele ao lado, mas porque também já levou com ele do outro lado: quem tem Messi é sempre favorito à vitória.
Ponto final.
Esta crónica poderia ficar por aqui, porque foi graças a ele que o Barcelona pôs um pé na final da Liga dos Campeões, apesar do grande "mas" que aí vem de seguida. O Barcelona goleou, 3-0, porque tem Messi, - aí vem ele - mas o Liverpool do rockeiro Jürgen Klopp foi quase sempre superior ao Barcelona do cauteloso Ernesto Valverde, com o resultado, basicamente, a ser uma mentira contada por um argentino com mania das grandezas.
Quando Messi marcou o 3-0, aos 82 minutos, Klopp riu-se. E, na verdade, não havia muito mais a fazer se não isso mesmo. Com um livre direto soberbo, ao ângulo, a uma distância ainda considerável da baliza, o avançado argentino fechou uma 1ª mão que, pelo menos nos 36 minutos anteriores, tinha parecido muitíssimo mais favorável ao Liverpool do que à equipa da casa.
É que o Barcelona de Valverde, sendo ainda o Barcelona, é também de Valverde, e isso quer dizer que, esta noite, o criativo Arthur cedeu o lugar no meio-campo ao vigoroso Vidal (seriam Xavi ou Iniesta preteridos também, caso lá estivessem? E Paulinho, pelo contrário... Nunca saberemos, claro, mas podemos sempre desconfiar), provavelmente como forma de controlar as transições alheias.
Só que podemos sempre contrapor com o facto de Arthur ser sinónimo de bola controlada e ter a posse daquilo que define o jogo é sempre meio caminho andado para mandar nele. E foi (também) por isso que o Barcelona teve muitas dificuldades em mandar em Camp Nou, já que o Liverpool conseguiu frequentemente condicionar a construção do Barça, pressionando sempre lá à frente - esta noite, não com o trio do costume, mas com Wijnaldum a fazer de '9', porque Firmino ainda não estava a 100%, pós lesão (entrou na 2ª parte).
Até com relativa facilidade, o Liverpool aproximava-se frequentemente da área de Ter Stegen, mas sem criar grandes oportunidades de golo. A primeira, na verdade, foi do Barcelona, e foi indefensável. Na direita, Vidal variou o jogo por completo para o corredor lateral esquerdo, para Coutinho, que tocou mais atrás, para Alba. O fantástico lateral esquerdo espanhol viu Suárez a desmarcar-se nas costas de Matip e à frente de Virgil van Dijk e colocou a bola no mínimo espaço disponível que separava os centrais adversários de Alisson Becker - Suárez só teve de desviar para o fundo das redes.
Aos 26 minutos, estava feito o 500º golo do Barcelona na Liga dos Campeões (só o Real Madrid tem mais, com 551 marcados) e se isso tem significado é pelo seguinte: nesta prova dos melhores da Europa, quem não executa ao mais alto nível, fica para trás. Que o diga Mané que, na cara de Ter Stegen, após passe a rasgar de Henderson (entrou aos 21 minutos, por lesão de Naby Keita), atirou por cima da baliza.
Na 2ª parte, a tendência que já começava a ser notória nos 45 minutos anteriores passou a ser mais do que evidente: o Liverpool estava por cima, dominava, criava oportunidades e se Wijnaldum, Salah e Milner não marcaram, bem podem culpar Ter Stegen, sempre seguro entre os postes.
Aos 59 minutos, Valverde dava mais sinais de cautela: tirou de campo Coutinho, muito apagado à esquerda, e assumiu o 4-4-2 que já se via em fase defensiva, subindo (o então lateral) Sergi Robert para o meio-campo, mais à direita (Vidal passou para a esquerda), e entrando Nélson Semedo para lateral direito.
Por esta altura, o plano do Barcelona parecia pouco mais do que defender a vantagem e pôr a bola em Messi (e Suárez), à espera que algo acontecesse, já que a equipa raramente se posicionou, coletivamente, no meio-campo contrário. O Liverpool, por outro lado, continuava perto da baliza de Ter Stegen, mas, enfim, não tem Messi.
Porque quem tem Messi tem um jogador que conduz com a bola colada no pé, atrai três ou quatro adversários, solta no colega livre - Robert - que vai a desmarcar-se no espaço, vê a bola sobrar para outro colega isolado - Suárez -, que faz a bola embater na trave, por cima de Alisson, e vai recolhê-la sozinho, antecipando o jogo antes de todos os outros, para encostar para o 2-0, aos 75 minutos.
Já com Firmino em campo, o Liverpool abanou com o golo sofrido contra a corrente do jogo, passando então o Barcelona a estar bem mais perto do 3-0. Até que surgiu aquele livre de Messi. E, aí, bom, pouco mais havia a fazer do que rir. É que, mesmo assim, Mané ainda teve o golo nos pés - Lenglet salvou a bola em cima da linha - e, imediatamente a seguir, Salah recolheu a bola isolado em frente à baliza, mas atirou ao poste.
Sabem quem não falhava esses lances?
Lionel Andrés Messi Cuccittini.
Porque, por muitos modelos, estratégias e ratoeiras que um treinador engendre para a sua equipa, são sempre os jogadores a jogar. Como disse hoje mesmo Arsène Wenger, na beIN Sports: "Hoje em dia, não são os treinadores que ganham os jogos. São os jogadores de qualidade superior". Como...
Lionel Andrés Messi Cuccittini.
FONTE: TribunaExpresso