O balão do João sobe pelo ar e está Félix o petiz

O puto-maravilha João Félix marcou um golo e assistiu por duas vezes Rafa, alimentando a luta do título de campeão nacional até ao próximo capítulo e as manchetes dos desportivos que o seu treinador tanto desdenha. As de segunda-feira terão certamente um pretexto familiar: João abraçou Hugo, o irmão mais novo, quando fez o 3-1 e esta é a foto que ilustra o momento. O jogo ficou 4-2 e certamente já todos viram um jogo assim. Calhou que assim fosse o Benfica - Vitória de Setúbal.

Creio que já todos vimos um jogo assim.

A equipa favorita começa bem, aliás, muito bem, e rapidamente chega ao golo e depois reforça o favoritismo com duas, três, quatro oportunidades falhadas, incluindo um penálti, após uma pressão intensa e um ataque contínuo, para então fazer o segundo golo e assim relaxar, porque a estima é grande e o adversário, que nada na madrasta luta pela sobrevivência, é subestimado.

É nestes momentos que o talento e a velocidade dos melhores futebolistas faz a diferença e todas as dificuldades se afiguram simples de descodificar, com toques habilidosos, receções orientadas: há um puto-maravilha a distribuir jogo, um jovem central a passar de trivela, um médio discreto de cabelo descolorado a recuperar bolas e um sprinter irresistível a construir contra-ataques. São os quatro portugueses e três foram formados ali.

Parece fácil de mais e talvez seja fácil de mais. Até que...

E a seguir a isso, pronto, lá vem a desnecessária descompressão, a desconcentração e, enfim, o erro, e de um lance curioso se faz o 1-2 que deixa o candidato ao título em ligeiras complicações, agravadas pela impaciência dos assobios da bancada e pelo natural cansaço das pernas.

A consequência é óbvia: o clube mais pequeno ganha a coragem que o faz crescer e subir e acreditar, e quando o intervalo chega, chega na melhor das alturas para os da casa e na pior para os que a visitam. Ainda que, claro, os números digam que o domínio de quem vai à frente é incontestável: 64% de posse de bola, 12 remates contra 6, 4 cantos a favor e dois contra.

Quando o intervalo termina e as equipas regressam ao relvado, é provável que ambas tragam dentro delas a mesma disposição com que saíram. Pois que o underdog procura a sorte, responde à pressão adversária da 1.ª parte na mesma moeda, atrapalha a defesa com o vigor de um extremo com um físico de pugilista pesos-médios, e um ponta de lança alto como um guarda-fatos. Só que, uma vez mais, o recuperador do penteado colorido fez um corte, o rei das assistências (16) cruzou e o puto-maravilha continuará a alimentar as manchetes que o seu treinador desdenha.

[A de segunda-feira até terá um pretexo familiar, pois o special kid deu um abraço ao mano mais novo apanha-bolas junto à linha de fundo]

Com 3-1, o desfecho parecia estar trancado, e nem mesmo um disparo bem defendido pelo guarda-redes faz tremer um triunfo certo. Que é confirmado, finalmente, por um quarto golo, autoria do melhor marcador da equipa e do campeonato, como não poderia deixar de ser. Ainda acabaria por haver um penálti, provocado pelo central rufia que insiste meter os pés pelas mãos – e as mãos na cara dos adversários.

Ficou 4-2 (o minuto a minuto está aqui).

Bem, certamente já todos viram um jogo assim, calhou que assim fosse o Benfica - Vitória de Setúbal.

Os golos foram de Rafa, um de calcanhar (2') e outro de remate cruzado (36'), ambos a passe de Félix que também fez o seu na segunda-parte (56'), confirmando que é um puto realmente especial; o quarto foi do inevitável Seferovic (77'), com intervenção de Rafa, o que tornaria difícil a atribuição do melhor em campo: ou ele ou Félix.

Já o Vitória marcou, primeiro, por Nuno Valente (39'), após uma deliciosa cueca de Berto sobre Ferro e uma boa assistência do mui viajado Ruben Micael; e, depois, num penálti, convertido à Panenka pelo destemido Cádiz (88').

A luta pelo título prossegue com o Porto - Santa Clara (sábado, 20h30) e com o Benfica - Marítimo (segunda-feira, 20h15). Entretanto, jogam-se a Liga dos Campeões e a Liga Europa.

[n.d.r. O rapaz do cabelo descolorado é Florentino, o central rufia é Rúben Dias e o central da trivela é Ferro. O avançado com cabedal de pugilista é Heriberto e o ponta de lança robusto é Cádiz].


FONTE: TribunaExpresso