Quem defende o futebol português?
Se há coisa que a última reunião do G15 nos mostrou a todos foi a completa inutilidade da Liga de Clubes. Por uma razão muito simples: os clubes não têm maturidade nem juízo para tratar do negócio futebol.
Não é propriamente uma novidade, mas vale a pena lembrá-lo: os clubes são há anos liderados por dirigentes irresponsáveis, imprestáveis e negligentes.
A forma como tentaram modificar em cima do joelho a decisão de reintegrar o Gil Vicente na Liga da próxima temporada, de forma a ganharem um lugar de permanência para mais um clube, é disso o mais lapidar dos exemplos.
Os dirigentes dos clubes portugueses não defendem o futebol, não defendem o campeonato, não defendem os jogadores e não defendem os adeptos.
Defendem apenas o clube deles. Ponto final.
É suposto esperar que esta gente seja capaz de legislar no interesse do futebol? Claro que não. Na melhor das hipóteses vão legislar no interesse do clube deles. O passado já o mostrou uma, e outra, e mais outra vez.
Bruno de Carvalho costumava dizer, aliás, que tinha desistido de ir às reuniões da Liga quando percebeu que só serviam para discutir árbitros e penaltis. Mesmo que a fonte não seja a mais insuspeita, não me custa admitir que seja verdade.
Ora por isso vale a pena voltar ao início para sublinhar a completa inutilidade da Liga de Clubes.
Ou alguém espera que saia de uma Assembleia Geral da Liga a aprovação de medidas fortes de combate à violência no futebol, por exemplo? De combate à falta de condições dos estádios? De combate à suspeição no futebol? De combate à má distribuição das receitas? De combate à desvalorização da competição?
Claro que não.
Independentemente de serem medidas importantes para a valorização do negócio futebol, nunca partirão da Liga se mexerem com os clubes: e em particular com o clube de cada um daqueles homens que se sentam na Assembleia Geral.
Porque lá está, a Liga não existe para proteger o futebol, pensam eles: existe para proteger os clubes. Por alguma razão lhe chamam a casa dos clubes, aliás.
Ora assim sendo, o que é mais necessário para a Federação, o Governo ou ambos organizarem o futebol como ele merece: entregando-o a quem se preocupe com ele e em valorizá-lo, em vez de se preocupar só em proteger o seu quintal.
O primeiro passo já foi dado, com a devolução da disciplina e da arbitragem à Federação. Mas é preciso mais.
É preciso que a própria organização e que o negócio encontrem também quem o defenda, seja na Federação ou em comissões independentes.
O futebol português tem um diamante nas mãos: a paixão dos adeptos. O que é um excelente ponto de partida. Depois disso, porém, é necessário encontrar quem se preocupe em valorizá-lo, em defendê-lo, em prestigiá-lo.
Infelizmente já se percebeu que não é a Liga de Clubes que o vai fazer.
«Box-to-box é um artigo de opinião de Sérgio Pereira, subdiretor do Maisfutebol, que escreve neste espaço às terça-feiras de quinze em quinze dias»
FONTE: MaisFutebol