Maradona, Messi e só depois Cristiano

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

O pelotão de fuzilamento do Cristianismo pode destroçar. Pousem as armas ainda quentes, os tiros anteriores ainda a ferver, os puuuuumm puuuuuummm puuuuuuum a protestar as inclemências passadas.

Isto não é um muro das lamentações, isto é um altar de paz. Mas aqui, no meu cantinho das palavras, só há lugar para a adoração a dois deuses.

Para que fique bem claro: sou um profundo admirador do melhor futebolista europeu de todos os tempos. Cristiano Ronaldo, uma máquina mortífera, um leão do golo, um monstro de músculos e potência, um engenho completo, cabeça, pé direito quase sempre e pé esquerdo também.

Um génio, um craque, mas um Homem.

Daí o título: D10S Maradona, Leo Messi e só depois Cristiano.

Maradona e Messi são a rua, escreveu um dia Jorge Valdano, mestre das balizas e das Letras. Cristiano é o ginásio, o suor, a casa da maquinaria, concluiu o argentino.

O tema eterniza-se, e se Cristiano faz um poker ou uma bicicleta louca em Turim, logo a sua entourage de seguidores esmaga a santidade de Messi. Banaliza a arte celestial de um pé esquerdo capaz de escrever, desenhar, declamar poesia e recriar o teto da Capela Sistina.

Risco a estatística, quero lá saber dos quilómetros percorridos ou das pulsações em descanso. O que aqui me traz é o prazer. O sentar-me em frente à televisão, a cerveja fresca a embalar, os olhos embasbacados pelo drible, pela linha de passe impossível, pelo arco sem flecha a cair na baliza do Betis.

O prazer que Maradona me deu em 86, o prazer que Messi me dá há 15 anos. Não um prazer em esforço, mas um prazer instintivo, de sorrisos mordazes e a cabeça a perder-se de amores.

Não tenho melhores argumentos para esta discussão, quase sempre estúpida. Vivemos e usufruímos de dois génios, Leo e Cristiano, e é normal que para uns haja mais Messi e para outros mais Ronaldo.

O nacionalismo trôpego não me atrapalha as palavras, não me vincula a nada. A admiração por Messi, como por Maradona, é uma Torre de Babel de nacionalidades, é todo o mundo encavalitado para ver só mais um bocadinho.

Portugal tem muito a agradecer a Cristiano, o terceiro melhor de todos os tempos. Arranjem um lugar para mim nesse coro de admiradores, gargantas roucas e o peito a bater de orgulho. Sim senhor, adoro Cristiano Ronaldo.

Mas Maradona… mas Messi… é outra coisa. Não é só adoração, é mais, bem mais. É a certeza de que há algo de sobrenatural naqueles movimentos, algo de miraculoso e comovente.

Maradona e Messi são a magia quase infantil da Disney, o Bem caricaturado num campo de futebol.

Cristiano é o poder da Marvel, o super-herói de capa e fato de licra, o vigilante do futebol lusitano.

E eu sempre gostei mais do Pato Donald e do Mickey do que do Capitão América.


FONTE: MaisFutebol