Quando Rui Pinto ainda não era John, mas apenas o “FL” e falava no plural: “Vivemos em Portugal. Somos cidadãos portugueses”
A Tribuna Expresso publica "Dados, Dados, Dados" um dos capítulos do livro "Football Leaks" (edição portuguesa da Planeta), escrito pelos jornalistas da Der Spiegel, a publicação que liderou o processo de divulgação dos documentos que abalaram o futebol através do consórcio EIC, do qual o Expresso faz parte.
No final de Janeiro de 2016, um e-mail na nossa caixa de correio obteve a nossa atenção imediata. A mensagem de «FL» dizia que eles acreditavam que os agentes dos jogadores tinham evitado de modo sistemático impostos durante anos, usando um sistema complexo de empresas. Como uma pequena «oferta», por não os contactarem há tanto tempo, estavam a enviar-nos dois contratos relativos à Alemanha.
No final de Janeiro de 2016, um e-mail na nossa caixa de correio obteve a nossa atenção imediata. A mensagem de «FL» dizia que eles acreditavam que os agentes dos jogadores tinham evitado de modo sistemático impostos durante anos, usando um sistema complexo de empresas. Como uma pequena «oferta», por não os contactarem há tanto tempo, estavam a enviar-nos dois contratos relativos à Alemanha. O e-mail continha quatro links que davam acesso a ficheiros encriptados.
Na nossa análise inicial, os dados que surgiam à nossa frente pareciam muito confusos. Tratava-se de uma mistura de contratos, saldos de contas e e-mails. Muitos estavam em espanhol e inglês; alguns dos documentos estavam em português. Começámos a ler, a desbravar caminho através de pastas e ligações. Havia cerca de 300 megabytes de dados, cerca de sessenta contratos que se estendiam por 400 páginas.
Dividimos o material entre nós. A primeira coisa a avaliar era se se tratava de documentos genuínos ou não. Comparámos algumas das agências que surgiam com entradas nos Football Leaks registos comerciais. Todas elas correspondiam. A cronologia relativa a uma determinada transferência e quem lucrara financeiramente sob a forma de gratificações, assim como a lógica dos documentos, também batia certo. Mais tarde, escrevemos às partes referidas nos documentos e confrontámo-las com as acusações ali explícitas.
Ao avançarmos com a nossa leitura dos dados, reparámos imediatamente no contrato de transferência entre o Bayern de Munique e o Real Madrid pelo médio Xabi Alonso, com data de 28 de Agosto de 2014 e no da transferência de Toni Kroos do Bayern para o Real Madrid. A taxa de transferência para Kroos foi registada como sendo de 25 milhões de euros, pagável em três prestações até 15 de Julho de 2016. O contrato, que também tinha a assinatura de Kroos, estava datado de 10 de Julho de 2014. Dois dias depois de a selecção nacional alemã ter goleado a selecção nacional do Brasil nas meias-finais do Campeonato do Mundo e três dias antes da final. Kroos assinou pela primeira vez o seu contrato de trabalho com o Real Madrid a 17 de Julho, mas o negócio foi concretizado enquanto a Alemanha ainda se encontrava em competição no Campeonato do Mundo.
Kroos aspirava a ser um dos jogadores de vencimento mais elevado da equipa do Bayern, mas os dirigentes do clube recusavam-se a ceder ao seu desejo e as discussões em torno do vencimento de Kroos preocuparam os adeptos e os meios de comunicação social durante meses. De acordo com o seu novo contrato, o dinheiro que Kroos recebe em Madrid tê-lo-ia tornado um dos jogadores mais bem pagos do Bayern naquela altura. O alemão ganhou 11,3 milhões de euros brutos na sua primeira temporada, seguido de 10,9 milhões de euros da segunda à sexta temporadas.
Kroos recebia de seis em seis meses, e não mensalmente, ocorrendo os pagamentos a 10 de Janeiro e a 10 de Julho. Um pormenor que diz muito acerca do encanto do novo emprega‑ dor de Kroos surge na terceira página de um dos suplementos do contrato de trabalho.
Constava que o centro-campista receberia um pagamento único de 1 818 182 euros brutos do Real caso chegasse à lista final para a eleição do Bola de Ouro e que este valor seria automaticamente adicionado ao seu vencimento ao longo dos seis anos que se seguissem. Kroos também receberia o bónus e aumento salarial equivalentes se fosse, na realidade, eleito melhor jogador do mundo. Kroos recusou-se a comentar o seu contrato. Ficámos bastante convencidos da autenticidade dos documentos, cujas fontes eram desconhecidas, mas subsistiam algumas dúvidas irritantes.
Num dos contratos, o primeiro nome de Kroos encontra-se escrito «Tony» e não «Toni». Poderia um clube de topo como o Real cometer um erro destes num documento em que se lidava com muitos milhões de euros? (Mais tarde determinámos que podia.) Jogando pelo seguro, contactámos o agente de Kroos, Volker Struth e a sua empresa, a SportsTotal em Colónia. Colónia estava a festejar o Carnaval e Struth não queria ser incomodado. Não queria proferir nenhuma declaração pública acerca do contrato e recusou-se a confirmar ou a negar fosse o que fosse. No entanto, chegou a ameaçar-nos com uma acção legal.
Contudo, neste caso sentíamo-nos muito confiantes. Tínhamos documentação escrita. Os contratos pareciam genuínos e tinham sido assinados por todas as partes. Além disso, um informador de longa data nosso, que se encontra bem relacionado no mundo do futebol, confirmou-nos que os valores e disposições eram plausíveis. Se fosse necessário, poderíamos ter apresentado tudo isto como prova num tribunal alemão.
Nesse caso, o outro lado teria de provar que o material era falso ou que tinha sido manipulado. Nas nossas reuniões editoriais, abordámos não só o aspecto legal, mas também as ramificações éticas do que estávamos a fazer.
A publicação de valores salariais e os pormenores dos contratos de trabalho é controversa. Para o fazermos, tem de haver um interesse público legítimo em tal informação e a pessoa em questão tem de ter um nível mínimo de importância aos olhos do público.
Os nossos debates foram acalorados. No caso de Kroos, decidimos publicar os valores que tínhamos porque as suas exigências salariais tinham sido uma das principais razões para ter deixado o Bayern de Munique e a sua transferência fora uma das histórias mais espectaculares do Verão de 2014. Os pormenores do contrato – facto de as negociações com Madrid terem decorrido durante o Campeonato do Mundo e de o contrato ter sido assinado pouco depois do jogo da final com a Argentina – eram interessantes e importantes para o nosso público. Noutros casos e com outro tipo de documentos, decidimos que o direito individual à privacidade superava os argumentos a favor da publicação.
Por outro lado, não houve dúvida alguma acerca da publicação de uma das outras histórias que encontrámos nos dados da Football Leaks. Dizia respeito a negócios questionáveis do agente holandês Martijn Odems e da sua empresa sediada em Amesterdão, Orel B. V. O próprio Odems tem muito boas ligações na Serie A italiana e, em 2013, fez um negócio transferindo o guarda-redes argentino Juan Pablo Carrizo da Lazio para o Inter de Milão. Como pudemos ver a partir dos documentos da Football Leaks, ele transferiu a sua comissão para uma empresa sediada no Panamá.
Este acordo era ultra-secreto. Nem sequer o Inter de Milão o conhecia. Após a transferência de Carrizo, o clube pagou à Orel B. V. 300 000 euros em três prestações. A comissão de Odems, chegou inicialmente à Holanda, mas não ficou por ali muito tempo. A empresa no Panamá com a qual Odems tinha o contrato secreto enviou à Orel B. V. três facturas que totalizavam 277 550 euros pela transferência. Não é de todo absurdo imaginar que o verdadeiro propósito desta actividade estivesse relacionada com impostos. Apenas 22 500 euros da transferência permaneceram na empresa de Odems na Holanda.
O agente holandês tem recusado responder a questões acerca do porquê de ter transferido praticamente toda a comissão que o Inter de Milão lhe pagou para uma empresa sediada no Panamá. Também não disse nada acerca de se a empresa lhe restituiu uma parte ou a totalidade da sua comissão. Dirigimos à Football Leaks outro e-mail, descrevendo o que tínhamos conseguido fazer com os dados. Estávamos prestes a escrever o nosso primeiro artigo acerca de delatores cujas acções estavam a deixar o mundo do futebol nervoso.
Estávamos particularmente interessados nos truques fiscais dos agentes. Dissemos-lhes que gostaríamos de olhar mais profundamente para esta temática e perguntámos se a Football Leaks tinha mais material acerca de negócios no estrangeiro.
Duas horas depois, os delatores responderam que tinham milhares de documentos relativos à evasão fiscal por parte dos agentes de joga‑ dores. Disseram que acreditavam estar em vigor há anos um sistema montado para enganar os contribuintes europeus. Queríamos nós investigar um pouco mais? Claro que sim. Pedimos mais material, em especial documentos relativos a agentes alemães, indicando empresas e indivíduos.
Também anexámos artigos que tínhamos feito no passado relativos aos agentes. A ideia era reforçar a mensagem de que tínhamos investigado estas questões durante anos e que cada prova adicional seria uma grande ajuda. Por esta altura, «FL» estava a responder aos nossos e-mails no espaço de algumas horas. Iriam verificar o material, disse-nos o delator, e enviar-nos-iam uma selecção. Estávamos a começar a debater com «FL» as questões globais no desporto. O que significa concorrência justa? De onde vem todo o dinheiro para o desporto de alto nível? O que dá o futebol aos adeptos? Por que existem adeptos, por vezes, tão predispostos a concordarem com tudo? Passámos horas a debater estas questões, a trocar dezenas de e-mails.
Os serões estavam a ficar cada vez mais compridos. Muitas vezes, «FL» só se tornava comunica‑ tivo após as 23 horas. Isso dava-nos tempo durante o dia para analisarmos os dados e para trabalharmos nos nossos artigos. Cada mensagem revelava mais acerca da personalidade e do carácter dos delatores. Tinham ideias interessantes acerca de como mudar o desporto e onde os órgãos diretivos mundiais e, acima de tudo, os investigadores deveria ajustar as suas estratégias de modo a limitar a influência criminosa.
Perguntámos a «FL» se nos concedia uma entrevista, por telefone ou presencial, dizendo-lhe que estávamos dispostos a viajar para qual‑ quer parte do mundo. «FL» recusou, dizendo que seria demasiado perigoso. Mas concordou em responder a questões através de e-mail. Na manhã seguinte, enviámos uma grande lista de perguntas. Doze horas depois, tínhamos as nossas respostas, as quais foram publicadas no Spiegel Online.
Spiegel Online: Onde se encontra a operação da Football Leaks?
Football Leaks: Vivemos em Portugal. Somos cidadãos portugueses.
Spiegel Online: Estão ao serviço de alguém?
Football Leaks: Somos totalmente independentes e nenhum de nós é pago para trabalhar aqui. O facto de termos agitado tanto o futebol com a publicação dos documentos fez-nos tomar consciência de que virámos alguns inimigos poderosos contra nós. É por isso que não pode‑ mos dizer nada mais acerca das nossas identidades. Temos de nos proteger a nós próprios.
Spiegel Online: Por que criaram a Football Leaks?
Football Leaks: Andámos a pensar neste projecto durante muito tempo. A determinada altura, começámos a reunir documentos do mundo do futebol e esperámos pelo momento certo para os publicar. No último Verão chegou esse momento. Houve inúmeras transferências de jogadores duvidosas no mercado de transferências português e queríamos desvendar as mentiras e inconsistências. Quantos mais documentos obtínhamos e analisávamos, mais claro se tornava para nós que esta indústria do futebol não transparente necessita de ajuda.
Spiegel Online: Quantos contratos e documentos têm na vossa posse?
Football Leaks: Temos mais de 550 gigabytes de documentos e estamos consistentemente a receber novos.
Spiegel Online: Vocês publicam contratos de jogadores como os de Mesut Özil, Hulk ou de Gareth Bale assim como documentos legalmente explosivos que fizeram incidir os holofotes sobre esquemas ilegais de clubes, agentes de jogadores e fundos de investimento. Que critério e princípios aplicam na vossa selecção de documentos para publicação?
Football Leaks: Normalmente, publicamos os documentos aleatoriamente. Tentamos publicar dois documentos na Internet todos os dias. Por vezes, estes suscitam discussões nas redes sociais que procuramos estimular mais com os nossos esforços de publicação.
Spiegel Online: Qual é o público-alvo para os documentos que publicam?
Football Leaks: Nós próprios somos grandes adeptos do futebol e a nossa prioridade é ajudar outros adeptos a compreender melhor este negócio sigiloso do futebol. Cláusulas, contratos, comissões de consultoria – tudo isto se tornou um assunto tabu no futebol. Tem de haver um debate público acerca do desporto para que este se livre do secretismo. Um negócio pouco transparente, como acontece com o futebol, é um paraíso para a corrupção, a lavagem de dinheiro e a fraude fiscal.
Spiegel Online: Alguns críticos também vos acusam de publicarem os contratos de jogadores como Gareth Bale, Mesut Özil ou Hulk, apenas para satisfazer o desejo de voyeurismo do púbico.
Football Leaks: Cada um desses contratos conta a sua própria história. Mostram tudo desde a quantidade infinda de cláusulas até às comissões astronómicas e a possibilidade de ocultar prémios de assinatura. Esses documentos são muito importantes para a compreensão do negócio do futebol actual.
Spiegel Online: Outra alegação é a de que obtiveram os documentos de modo ilegal, pirateando uma agência de direitos desportivos.
Football Leaks: Não pirateámos ninguém. A acusação é ridícula. Temos uma variedade de fontes que nos fornecem os contratos e os acordos. A nossa rede é muito estável.
Spiegel Online: Estão a enfrentar as maiores equipas de futebol do mundo e também estão a irritar superestrelas e os seus agentes influentes. Não têm, de todo, medo
Football Leaks: Temos consciência dos riscos envolvidos, especialmente dos riscos legais. Os grupos de pressão do futebol também têm muita influência sobre as autoridades de investigação; nunca seríamos julgados de modo justo.
Spiegel Online: Como chegaram a essa conclusão?
Football Leaks: As nossas revelações criaram muitos problemas a uma agência de direitos desportivos. A empresa utiliza um sistema de evasão fiscal e violou vários regulamentos da FIFA. As nossas revelações tornaram as coisas incómodas. Temos a certeza absoluta de que também estão a exercer pressão sobre as autoridades num esforço para nos silenciar. E não é tudo: também contrataram detectives privados para nos expor.
Spiegel Online: Como se manifesta essa pressão?
Football Leaks: A nossa página já foi atacada, uma agência de direitos desportivos pressionou os fornecedores do domínio e exigiram uma retirada. Os nossos fornecedores de domínio russos encerraram a nossa nuvem e depois mostraram-nos documentos da empresa, a qual os tinha pressionado imenso. Somos, agora, vítimas de censura.
Spiegel Online: Qual é o vosso derradeiro objectivo com a Football Leaks?
Football Leaks: Queremos tornar o sistema de transferências mais transparente e queremos reduzir a influência dos agentes dos jogadores e dos fundos de investimento que exercem um domínio crescente sobre o futebol. Também gostaríamos de ver a criação de uma base de dados acessível ao público que incluísse todos os pormenores relativos às transferências e discriminações das taxas de transferência, prémios de assinatura, cláusulas e propriedade por parte de terceiros de partes de passe de jogadores.
Spiegel Online: Esses objectivos são muito ambíguos. Football Leaks: Somos movidos pelo nosso desejo de acabar com aqueles que estão a enriquecer injustamente através do futebol. Também queremos entrar numa nova era no futebol: A era da transparência.
Spiegel Online: Consideram-se estar na mesma categoria de portais como a WikiLeaks?
Football Leaks: As pessoas como Julian Assange, Edward Snowden ou Antoine Deltour são uma grande inspiração para nós. Sacrificaram tudo pelas suas convicções e pelos seus sonhos. Agora, estamos a tentar dar o nosso contributo para um mundo mais transparente.
Spiegel Online: Durante quanto tempo planeiam continuar a publicar documentos explosivos na Internet?
Football Leaks: Até deixarmos de ter documentos.
A entrevista foi reimpressa e citada por inúmeros outros canais jornalísticos. Foi uma declaração de guerra por parte da Football Leaks e também um aviso acerca do que espera o mundo do futebol nos meses seguintes: fugas incontroláveis e 500 gigabytes de dados – perto do dobro do que John tinha referido na sua entrevista ao New York Times. Ninguém sabia o que incluiriam.
Enquanto trabalhávamos no nosso artigo e na nossa entrevista, continuaram a surgir novas revelações na página da Internet da Football Leaks: contratos de transferência e contratos laborais para superestrelas internacionais como o centro-campista alemão Mesut Özil, o avançado colombiano Radamel Falcao e o avançado argentino Carlos Tévez. Os segredos empresariais de clubes de topo como o Chelsea, o Arsenal, Tottenham, Real Madrid e Atlético de Madrid, estavam a ser publicados na Internet, ficando acessíveis a todos.
Em períodos regulares, o superagente Jorge Mendes podia ler documentos confidenciais ligados à sua agência Gestifute, enquanto a publicitária desportiva Doyen Sports se tornava mais transparente de dia para dia. Era essa a quantidade de material que surgia na plataforma. O mundo do futebol só podia ficar parado a ver, como se estivesse paralisado, enquanto os rebeldes da Internet faziam o que queriam, os meios de comunicação social internacionais analisavam os documentos revelados e os adeptos vacilavam entre o ultraje e a resignação perante o que estava a acontecer ao seu querido desporto.
Por essa altura, tínhamos contactos diários com «FL». Por vezes, passávamos horas a trocar e-mails. Os delatores enviavam-nos material relativo a casos legais em torno da proibição da FIFA de propriedade por terceiros e documentos do Parlamento Europeu expondo o perigo que tais modelos de investimento representavam para o futebol.
Aqueles que se encontravam por trás da Football Leaks eram muito sistemáticos na sua análise dos dados, passando a pente fino empresas e proprietários e tentando estabelecer ligações. É precisamente deste modo que auditores fiscais, investigadores criminais ou jornalistas de investigação trabalham.
«FL» chegou inclusive a enviar-nos uma espécie de organograma ilustrando a relação entre vários funcionários em lugares de destaque da liga portuguesa de futebol e agentes de três jogadores e um advogado. Aquelas pessoas controlam o futebol europeu e estão, constantemente, a fazer negócios secretos uns com os outros, contou-nos «FL».
Os jogadores e os clubes são pouco mais do que as suas marionetas. A Football Leaks afirmava ter os documentos que provavam tais alegações. «FL» prometeu-nos que, quando os lêssemos, nos perguntaríamos como é que alguém ainda podia ter fé no desporto. Sugerimos que avaliássemos o material, mas primeiro queríamos uma garantia de que seria um exclusivo. De outro modo, corríamos um risco demasiado grande de passarmos semanas a trabalhar num monte de dados apenas para ler acerca deles numa outra publicação qualquer.
Para nossa surpresa, «FL» respondeu-nos em poucas horas, escrevendo simplesmente: «De acordo!» Os delatores na Internet são pessoas de poucas palavras. Anexo a este e-mail, encontrámos várias ligações para 700 megabytes de dados codificados, cerca de 800 documentos no total. A princípio, ficámos perplexos. Muitos dos documentos estavam em chinês. Pareciam ser relativos à aquisição de um clube e a uma parceria entre uma agência desportiva chinesa e Mendes.
Não estávamos preparados para os documentos chineses. Obviamente, iríamos precisar de ajuda nesta história. Uns minutos depois, seguiu-se outro e-mail. Desta feita, os dados estavam em espanhol e inglês e eram relativos aos truques fiscais utilizados pelos agentes sul-americanos e holandeses. Após uma rápida vista de olhos, vimos que alguns dos grandes nomes do mundo do futebol estavam envolvidos: o vencedor da Bota de Ouro do Campeonato do Mundo de 2014, James Rodríguez; o goleador de 90 milhões de euros, Gonzalo Higuaín; e a superestrela do PSG, Ángel Di María.
«FL» também destacava, especificamente, páginas individuais, contratos e extractos bancários, o que tornou mais fácil termos uma panorâmica inicial do material. Era claro, tendo em consideração como «FL» nos enviara os documentos, que as pessoas por trás da página da Internet conheciam o material e compreendiam o seu conteúdo.
Podíamos começar a investigar.
FONTE: TribunaExpresso