«Com 18 anos era o chefe do meu bairro porque tinha dinheiro»

A transferência de Kevin-Prince Boateng do Sassuolo para o Barcelona foi uma das maiores surpresas da última janela de transferências. O internacional ganês recordou a «juventude louca», abordou a oportunidade de representar o campeão espanhol e o racismo.

«Quando era jovem estava louco. Com 18 anos era o chefe do meu bairro porque tinha dinheiro. Depois tive um filho e apercebi-me que se não amadurecesse, não poderia chegar a equipas como AC Milan ou Barcelona. Não te escolhem. Podes jogar muito, mas se a cabeça não funciona não podes jogar com essas equipas. Por isso, mudei a minha atitude e o meu carácter», contou, em entrevista ao jornal «La Vanguardia».

O futebolista de 31 anos lembrou que já esteve com quilos a mais quando representava o Tottenham e explicou que o excesso de peso estava relacionado com o estilo de vida que levava. «95 quilos? Era por causa da festa. O Tottenham não jogava e estava sempre nas bancadas com os adeptos. Tinha 20 anos. Vais a festas, estás com os teus amigos e comes mal. Agora tenho o meu próprio cozinheiro e tenho consciência de que alimentar-me bem e manter-me saudável permite-me jogar até mais tarde. Quando és jovem, pensas que todos os meses o dinheiro vai estar lá. Se não jogas, é igual porque tens dinheiro e os teus amigos dizem que és um fenómeno», atirou.

Em relação à mudança para a Catalunha, o próprio Boateng mostrou-se surpreso. «Mudei várias vezes de equipa e quase no final da minha carreira tenho esta oportunidade. Jogar no Barcelona é o mais emocionante que te pode acontecer enquanto jogador. Faço 32 anos em março. Era impensável. Com a minha idade, sou um pouco velho, é um sonho jogar aqui», confidenciou.

Por último, Boateng reviveu o dia em que saiu do relvado no particular entre AC Milan e Pro Patria após ter sido visado por cânticos racistas, garantindo que não tolera esse tipo de atos.

«Não tenho medo nem me escondo. É um tema delicado. Não afecta só Espanha ou Itália, mas todos os países. Aconteceu algo do género com o Koulibaly, recentemente. Está presente todos os dias. É um problema importante. Na minha cabeça é simples: se voltar a acontecer vou para casa e peço à equipa que me acompanhe», referiu antes de continuar a desenvolver o raciocínio.

«É um problema dos clubes, da Ligas mas também da sociedade. Pode-se sempre fazer mais. Os jogadores e os meios de comunicação também. Devemos estar todos juntos. No geral acredito que a solução passa por educar. Por que razão no colégio não temos dois ou três horas semanais para explicar a diversidade e o racismo? Os miúdos crescem com os valores de que a cor não importa. Quando deixar o futebol, quero dedicar-me a isso.»


FONTE: MaisFutebol