Uma estalada de realidade
Guardem as canas dos foguetes, arrumem as fitas: a vitória na Taça da Liga já lá vai e foram necessários quatro-dias-quatro apenas para o duro embate com a realidade. A realidade que nos diz que o Sporting já está a pagar as exigências da competição, dos dois jogos por semana, das batalhas psicológicas duras, como aquelas ultrapassadas em Braga.
Aqueles dias em Braga foram bons, deram mais um troféu ao Sporting, mas o esforço de dois jogos que terminaram em grandes penalidades parece ter-se abatido sobre os leões, com tanta ou mais força que a chuva que caiu copiosamente durante grande parte do jogo com o V. Setúbal, no Bonfim, de onde a equipa de Marcel Keizer sacou a ferros um empate sem brilho.
Sofrido, quase só no esforço.
Porque a juntar à evidente quebra física dos jogadores leoninos - e às lesões, e às possíveis saídas - as ideias do treinador holandês já parecem por estes dias coisa pouco assustadiça para os adversários. Até para Sandro Mendes, treinador rookie a fazer a primeira aparição como líder de uma equipa de 1.ª Liga após a saída de Lito Vidigal dos sadinos.
Tal como em encontros anteriores, o Sporting voltou a ter grandes dificuldades em impor o seu jogo nos primeiros minutos, em trocar a bola com destreza, com o V. Setúbal a perceber bem como pressionar jogadores massacrados e de ideias pouco frescas, a enganar um Doumbia perdido em campo nos primeiros minutos e a ultrapassar uma defesa com Petrovic, cuja fratura no nariz não o tornou, de repente, mais rápido.
As ideias não abundavam nos jogadores leoninos, mais atreitos a tentarem resolver tudo sozinhos, face a uma defesa sadina intratável. E quando a bola chegava à área, fruto dos insaciáveis cruzamentos de Jefferson na esquerda, Bas Dost falhava - “quem és tu e o que é que fizeste ao Bas Dost?” foi o que às tantas apeteceu perguntar. Falhou aos 9’ minutos, ao cabecear por cima um serviço quase perfeito do brasileiro, e voltaria a falhar aos 12’, com um remate à figura de Cristiano.
Sem marcar, o Sporting expôs-se aos ditados populares e aos 24 minutos, numa transição rápida, o V. Setúbal marcou, após um passe na profundidade de Ruben Micael para Cádiz, que recebeu a bola ainda no seu meio-campo, correu por ali fora e na hora da verdade fez o que quis do já amarelado e pouco dotado de rins Petrovic, que pouco conseguiu fazer para evitar o movimento venenoso do venezuelano.
Com um golo no saco, o Sporting foi atrás do empate, mas a maior posse de bola não significou necessariamente ideias, que continuaram esquecidas e substituídas por demasiadas cruzadas individuais. E tudo piorou com a expulsão de Ristovski no início da 2.ª parte, por palavras, certamente, porque no lance em questão quem mais sofreu foi o lateral, que saiu de campo com um galo épico, como se de repente uma bola de golfe se lhe quisesse sair do crânio.
A jogar com 10, Keizer tirou Doumbia, deu ordem de entrada a Nani e Bruno Gaspar e o jogo tornou-se obrigatoriamente mais partido: não dando para jogar bem, sem inspiração particular, o técnico holandês, cada vez mais maleável, percebeu que talvez só na confusão e num futebol mais direto conseguiria trazer pontos de Setúbal.
E assim aconteceu. Face a um V. Setúbal cuja iniciativa atacante se resumia agora a contra-ataques, o Sporting foi em busca de um empate que apareceu aos 80 minutos. Numa jogada algo confusa, a bola sobrou para Bruno Fernandes à entrada da área. O médio rematou e pelo caminho Bas Dost deu um toque malandro com o calcanhar que acabou por enganar Cristiano.
Com pelo menos o empate conquistado, o Sporting levou então o jogo para momentos mais imprevisíveis, na desesperada demanda de algo mais. Mas o perigo remeteu-se a uma bomba de Bruno Fernandes já nos descontos, bem afastada pelo guarda-redes da casa.
Deu, portanto, empate o regresso do Sporting à labuta depois da festa da Taça da Liga. Uma estalada de realidade que coloca os leões muito longe da frente e já a cinco pontos do Benfica. O dérbi do fim de semana já era de tolerância zero, agora fica imperativo ganhar.
FONTE: TribunaExpresso