O tempo perguntou a Lage quanto tempo o tempo tem, e Lage respondeu: Félix
Bruno Lage pediu tempo para treinar e tempo foi o que ele teve. Tempo e também um adversário frágil, o que ajudou a construir uma goleada robusta, por 5-1, em casa, com uma exibição notável do jovem João Félix, que marcou e assistiu Seferovic
Nunca havendo um momento simpático para um treinador pegar numa equipa a meio de uma época, convenhamos que o timing para a entrada de Bruno Lage no Benfica foi, à falta de palavra melhor, tramado. Para os mais esquecidos, era isto que o esperava: Rio Ave (6 de janeiro), Santa Clara (11), Vitória de Guimarães (15), Vitória de Guimarães outra vez (18, para a Taça) e FC Porto (22, meias-finais da Taça da Liga). Lage ganhou os primeiros quatro e perdeu o quinto; dadas as circunstâncias, não sendo isto ótimo, porque implica menos um título, não correu nada mal e o treinador passou proverbialmente no teste público.
Mas a Lage faltava-lhe tempo e tempo foi o que ele pediu e o que ele acabou por ter entre o FC Porto e o Boavista desta terça-feira. Disse ele que era para treinar o tal 4x4x2 que escolhera num feelling – não confundir com luz –, coisa que naturalmente demora a entrar nos eixos. São as basculações e as marcações e a bola coberta e a bola descoberta, e assim; e é sobretudo uma determinada ideia que implica jogar o jogo do engodo, atraindo o adversário para um certo lugar e disparar rapidamente para o outro, no momento certo – e com os jogadores certos.
É que jogar desta forma implica ter alguma qualidade com a bola no pé, tipo João Félix, que marcou o primeiro de cabeça num livre batido por Pizzi e construiu o terceiro golo (3-1, na altura) do Benfica com um contra-ataque pela linha e um cruzamento notável para os pés de Seferovic; pelo meio, Pizzi e Talocha tinham marcado cada um o seu, sendo que o 2-1 ao intervalo escondia ainda uma bola inacreditável ao poste por Tahar, após um disparate de Gabriel logo a abrir o jogo, e uma na trave de Helton, num cabeceamento vigoroso de Rúben Dias.
Bom, mas voltando ao minuto 54’, que ele que nos trouxe até ao terceiro parágrafo. Foi assim que os encarnados enterraram a dúvida de quem iria sair por cima na noite de chuva miudinha na Luz; o Boavista, este frágil Boavista acabadinho de trocar de treinador, que pelo músculo e pela vontade tentou aproveitar o balanço ofensivo dos encarnados, não mais ofereceria resistência.
Neste momento, já Félix andava a trocar de posição com Pizzi no lado direito, confundindo a defesa e o meio-campo boavisteiros sobre quem-marcava-quem, transformando o 4x4x2 numa estrutura adaptável e, depois, maleável com a entrada de Zivkovic para o posto do lesionado Rafa. Um pouco mais tarde, num remate bem colocado de Pizzi que Helton defendeu para o lado, Seferovic fez o 4-1. Caso encerrado, os três pontos eram do Benfica, e o melhor e o pior e outra vez melhor momentos também seriam: um remate de pé esquerdo de Grimaldo que resultou no 5-1, e uma falta absurda de Samaris na área que só não deu 5-2, porque Vlachodimos defendeu o tiro de Mateus.
FONTE: TribunaExpresso