Miguel Garcia: “Houve uma altura em que fui oferecido a toda a gente e ninguém me queria. Foi o Jorge Costa que me deu uma oportunidade”

Aos 35 anos, Miguel Garcia, alentejano de Moura, mais conhecido pelo "herói de Alkmaar", está focado na sua empresa de gestão imobiliária e em recuperar o tempo que esteve afastado da família, sobretudo dos filhos, por causa do futebol. Sportinguista desde pequeno, esteve nas mesmas equipas por onde passaram Ronaldo e Quaresma, entre outros. Foi defesa direito do Olhanense e do SC Braga, e depois de uma breve passagem por Itália onde não chegou...

É alentejano de gema.

Sim, nasci em Moura e ainda tenho sotaque alentejano, acho que nunca o perdi.

Fale-me um pouco da sua família.

Os meus pais sempre trabalharam no ramo da restauração, ainda hoje trabalham. Neste momento têm um restaurante, o “Sopas e Bifanas”, em Alcochete, mas antigamente, em Moura, era um café com petiscos. No Alentejo as pessoas vão muito petiscar e beber uns copitos de vinho.

Tem irmãos?

Dois, mais novos: o Cláudio, de 33 anos, e o Viriato, de 25. O Cláudio é muito parecido comigo, já nos confundiram várias vezes.

Passou toda a infância em Moura?

Sim, vivi lá até aos 14 anos.

Então o futebol nasce nas ruas de Moura.

Sim, perto da casa dos meus pais havia um espaço que juntava a malta da Saluquia, que era a minha zona em Moura. Dois paus para fazer a baliza e, pronto, jogávamos à bola uns contra os outros.

Torcia por que clube?

Pelo Sporting. Sempre fui sportinguista.

É de família?

Eu, a minha mãe e o meu irmão mais novo somos sportinguistas; o meu pai e o meu irmão do meio, o Cláudio, são benfiquistas. Mas acho que devido a ter jogado no Sporting e ter lá passado muitos anos, o meu pai foi mudando um pouco e ainda hoje tem um carinho muito especial pelo Sporting. Mas o futebol começou na rua, sim, depois na escola, nos intervalos. Tive um professor, o Eduardo Godinho, que era fanático pelo Sporting, adorava futebol, e fazia o interescolas em Moura.

Como foi a sua passagem pelo clube da terra, o Moura?

Comecei no Moura com oito ou nove anos, mas antes disso íamos para o pavilhão gimnodesportivo de Moura aprender a dar os primeiros toques na bola, como é que se passava a bola, como é que se faziam as receções, com o senhor José Correia. Foi muito importante. Quando fui para o Moura, para os infantis, desenvolvi ainda mais a paixão que tinha pelo futebol.

Vai para o Sporting com quantos anos?

Com 14 anos. Há o Torneio Lopes da Silva, que é de sub-14, e eu ainda era sub-13, mas já jogava na seleção distrital de Beja. Viemos fazer esse torneio aqui a Lisboa. As coisas correram muito bem e tive oportunidade de fazer uns treinos ao Sporting ou ao Benfica. Falei com os meus pais, disse-lhes que queria ir treinar ao Sporting. Fiz dois treinos e fiquei logo.

Isso implicava sair de Moura e viver em Lisboa. Foi pacífico para os seus pais?

Foi uma grande chatice porque a minha mãe não queria deixar-me vir para Lisboa sozinho, com 14 anos. O meu pai não se opôs, disse que se era aquilo que eu queria e se gostava mesmo de futebol…

Foi viver para onde?

Nos dois primeiros anos vivi na Encarnação, na casa de uns tios, porque o centro de estágio, que ainda era no antigo estádio de Alvalade, estava cheio. Na altura os treinadores, Leonel Pontes e Paulo Leitão, falaram com os meus pais para saber se tinha familiares em Lisboa.

Custou-lhe sair de perto dos pais e dos irmãos?

Custou. Vim em agosto de 97 e no natal, quando regressei a casa, já não queria voltar [risos]. Ia quase todos os fins de semana a Moura.

O que mais custava?

A falta dos amigos e da família, e daquela liberdade que tinha lá. Saía de casa e ia para onde queria, andava de bicicleta, jogava à bola, brincava às escondidas e em Lisboa não tinha essa liberdade.

Mas tinha outras coisas, era uma cidade maior.

Sim, mas com 14 anos não pensamos nisso. Pensava mais em estar perto dos amigos, da família e das coisas que tinha em Moura.

Adaptou-se bem à escola em Lisboa?

Sim. Tinha era de levantar-me super cedo, um bocadinho antes das sete, e apanhar dois autocarros, porque estudava em Telheiras. Isso custava um bocadinho. Depois saía da escola e ia para o treino, treinávamos no Sporting da Torre, que é perto, voltávamos para o estádio, íamos jantar no restaurante Tobis, no Lumiar, e depois do jantar, por volta das nove e tal da noite, voltava a fazer o mesmo caminho e só chegava a casa dos meus tios depois das dez da noite. Essa rotina não era fácil.

Os seus pais não vieram viver para Lisboa?

Os meus pais vieram para cá porque as coisas no café alteraram um bocadinho, também sentiam a minha falta e vieram para a zona da linha de Sintra. Eu tinha uns 17,18 anos. A minha mãe foi trabalhar para um infantário e o meu pai trabalhava num restaurante. Viveram ali três, quatro anos, e voltaram para Moura novamente. Estiveram lá algum tempo, mas já gostavam mais de estar cá e foram para Alcochete, adaptaram-se muito bem e até hoje ainda lá estão.

Como e quando definiu a sua posição em campo? Já vinha de Moura ou foi no Sporting?

Eu no Moura, com nove anos, era avançado [risos].

E marcava muitos golos?

Marcava [risos]. Aos 13, 14 anos, antes de vir para o Sporting, já jogava a número 8 e, quando lá chego, nos iniciados, continuo a jogar a meio-campo. Nos juvenis, jogava a trinco, quem jogava à minha frente era o Hugo Viana e o Hugo Machado.

Então como é que vai para defesa direito?

Nos juniores fazia alguns jogos a trinco ou a central, quando faltava algum central. Comecei a ser internacional pela seleção de sub-17, e era sempre trinco, mas no Torneio de Toulon de sub-20, o nosso lateral direito, o Baptista, do Boavista, lesiona-se e vou eu para lateral direito, onde nunca tinha jogado a não ser um ou dois jogos para desenrascar. O mister Caçador disse que eu era agressivo e raçudo e que ia fazer bem a posição de lateral direito. Entretanto acabámos por ganhar o Torneio de Toulon. Fiz um torneio muito bom. Estava então na equipa B do Sporting. Entretanto, na equipa principal saíram os laterais e foram buscar o Mário Sérgio ao Paços de Ferreira. Como tinham de ir buscar alguém da formação, acabei por ser eu, que só tinha feito o Torneio de Toulon a defesa direito e mais dois ou três jogos na equipa B. Acabei por ficar a jogar nessa posição.

Isso de alguma forma prejudicou o seu percurso?

Fui parar ali por alguma razão, se não tivesse ido para defesa direito se calhar não teria feito a carreira que fiz. Se tivesse apostado mais na posição de trinco ou central se calhar nem tinha tido oportunidade de ir à equipa principal, que tinha centrais como o Beto ou o Quiroga. Depois veio o Polga... No meio-campo também era complicado.

Quando e por quem é chamado à equipa principal do Sporting?

Sou chamado pelo Fernando Santos, em 2003/2004.

E que tal o Fernando Santos?

Gostei muito. Ele era um treinador um bocadinho mais rígido, mais disciplinador, mas ao mesmo tempo muito amigo dos jogadores. Foi muito importante porque apostou em mim, deu-me uma oportunidade.

Lembra-se do jogo de estreia na equipa principal?

Sim, sem contar com os jogos amigáveis, fizemos a inauguração do estádio com o Manchester United, foi o meu primeiro jogo. Jogou o Ronaldo à minha frente. Foi espetacular jogar com o estádio cheio. Para mim era algo com que sempre tinha sonhado.

Foi titular?

Fui.

Depois de estar a viver aqueles dois primeiros anos com os seus tios, vai viver com os seus pais quando eles vêm para a linha de Sintra?

Não. Estive dois anos a viver com os meus tios e depois fui viver para o centro de estágios.

Esteve quanto tempo a viver no centro de estágio?

Dois anos, entretanto começaram as obras no estádio principal, tivemos que sair dali e fomos viver para a residencial Dom José, na Duque de Loulé. Era um 5.º andar sem elevador.

Tinha quantos anos?

18 e era o único no grupo que tinha carta de condução. Nesse grupo estavam o Edgar Marcelino, o Ronaldo, o Filipe Costa, o Miguel Paixão, essa malta toda.

Aproveitaram para dar asas a alguns devaneios da juventude?

Sim [risos]. No centro de estágios tínhamos o coordenador, o Nuno Naré, que era espetacular, mas havia muitas regras. Às sete da manhã aparecia no corredor e começava logo: “Vamos a acordar, vamos embora”. E o pessoal tinha que se despachar e ir logo para a escola. A porta fechava a uma certa hora. Na residencial não, estávamos mais à vontade.

Nunca fez nenhuma escapadela do centro de estágios?

[risos] Sim. A porta do centro de estágio fechava à meia-noite e só voltava a abrir às sete da manhã. Houve uma noite em que sabíamos que ia haver uma festa da universidade em Santarém e eu e mais uns tantos resolvemos fugir pela janela. Saltámos cá para baixo, ainda eram uns dois ou três metros e lá fomos para Santarém. A festa durou até às cinco da manhã. Voltámos de carro e ficamos a dormir dentro do carro uma horita junto ao centro de estágio. Quando a porta abriu entramos, fomos tomar banho e o pequeno-almoço e ninguém deu por nada [risos].

Já ganhava dinheiro nessa altura.

Sim, tinha 17 anos, era júnior.

Quanto é que começou por ganhar?

Acho que eram trinta contos [150€].

Lembra-se de ter comprado alguma coisa especial com esse primeiro dinheiro?

Não. Lembro-me que queria tirar a carta de condução, até pedi dinheiro emprestado a um colega, ao Gisvi. Julgo que ganhava 40 ou 50 contos, ainda não tinha dinheiro para pagar a carta de condução e ele emprestou-me. Lembro-me perfeitamente desse episódio. Paguei-lhe tudo, sem juros [risos].

Qual foi o seu primeiro carro?

Um Seat Ibiza TDI comercial. Nessa altura já treinávamos na academia em Alcochete e todos queriam ir comigo. Apanhávamos um autocarro no estádio de Alvalade e às vezes levava o meu carro e era uma loucura. Eu a conduzir, outro a meu lado, normalmente era o Filipe Costa que era o meu colega de quarto e lá atrás às vezes iam o Ronaldo, o Miguel Paixão, o Edgar Marcelino, todos na galhofa [risos].

E primeiras namoradas, recorda-se?

É assim, lá em Moura dávamos um beijinho a uma, um beijinho a outra. Acho que o primeiro beijo que dei até foi à minha mulher [risos]. Mas tive um namoro mais a sério com duas miúdas lá de Moura e só depois é que foi com a minha mulher, a Marta, tinha uns 16, 17 anos.

O que é que ela faz?

É professora de educação física. Houve uma altura em que jogou ténis, era federada, jogou nos nacionais de juniores e foi número dois. Mas depois foi para a faculdade e desistiu.

Estávamos a falar da sua estreia na equipa principal, frente ao Manchester United. A partir daí agarra o lugar na equipa?

Sim, essa época correu bastante bem. Joguei muito.

Quem eram os seus concorrentes diretos?

O Mário Sérgio. Mas foi um ano de afirmação para mim. Se tinha dúvidas de que iria ter uma carreira no futebol, nessa época as minhas dúvidas ficaram esclarecidas.

Continuava a estudar?

O meu sonho era acabar o 12.º ano. Tive uma altura complicada no 10.º ano porque começámos a treinar de manhã e chumbei por faltas. Entretanto no ano a seguir comecei a estudar à noite, só que também não consegui acabar e só voltei a estudar à noite em Alcochete nessa época do Fernando Santos. Na época a seguir, a do Peseiro, entrei na FMH [Faculdade de Motricidade Humana]. Queria muito estudar e jogar mas não joguei tanto como na anterior. Queria fazer as duas coisas e não conseguia fazer bem nem uma, nem a outra. Apesar de ter 21 ou 22 anos havia alturas em que me sentia cansado, porque acabava o treino por volta do meio-dia, tomava banho, nem almoçava e ia logo para a faculdade, porque podia chumbar por faltas e eu não queria. No primeiro semestre fiz duas ou três cadeiras e já não consegui fazer mais, porque me chumbaram mesmo por faltas. Ainda tentei justificar com a seleção e com o Sporting mas não consegui. Tomei a decisão de não estudar mais e dedicar-me ao futebol.

Nessa época do Peseiro, em 2004/2005, marca o golo pelo qual ficou conhecido até hoje.

Exatamente, em maio de 2005. Foi o golo que nos levou à final da Liga Europa.

Ficou conhecido como o herói de Alkmaar. Chateia-o ter ficado conhecido quase só por isso?

Não acho isso. Sei que os sportinguistas, principalmente os que presenciaram esse momento, nunca se vão esquecer, e que não era daqueles jogadores principais, como o João Pinto e o Liedson, mas acho que a minha passagem pelo Sporting acabou por ser bastante positiva, não só pelo golo que marquei.

A seguir veio o Paulo Bento. Muito diferente do Peseiro?

Sim. Eu gostava muito dos treinos do mister Peseiro, ele dava muita confiança aos jogadores, sempre com um pensamento muito positivo, para mim foi um treinador muito importante, porque me deu uma confiança que na altura me faltava. Com o Fernando Santos sentia-me um bocadinho mais inibido, se calhar por ser o meu primeiro ano na equipa principal e por ser um bocadinho mais rígido, em certos aspetos, do que o Peseiro. Com o Peseiro tinha mais liberdade.

Como correu com o Paulo Bento?

Com o Paulo Bento também foi uma passagem um bocadinho intermitente, não joguei tanto como pretendia. Na altura ele alternava muito entre mim e o Abel. Depois tive uma lesão no jogo da Liga dos Campeões, contra o Spartak de Moscovo, e estive parado praticamente dois meses. Ainda por cima foi na altura de decidir se ficava no Sporting ou saía porque o meu contrato acabava em junho. Fui abordado pelo Reggina, em dezembro, mas o Sporting não me deixou sair e depois também não mostrou muito interesse na renovação. Com a oportunidade de fazer um contrato bom de três anos, acabei por assinar em janeiro com o Reggina. O Paulo Bento soube, porque os italianos noticiaram e não o deviam ter feito, e acabei por não jogar mais.

Mas só saiu no final da época.

Sim.

Nunca questionou o Paulo Bento?

Não. Qual seria a resposta? Ia dizer que não me punha a jogar porque tinha outra solução. Eu sabia. Então se comecei a época e fazia um, dois jogos, o Abel fazia um.dois jogos, era sempre assim e a partir de janeiro não jogava, só podia ser por um motivo, por ter assinado pelo Reggina.

Quando saiu da residencial foi viver para onde?

Sai da residencial D. José e passei para uma residencial no Saldanha, onde estava também o Miguel Pinheiro. Isso foi quando estava na equipa B. Depois passo para a equipa principal e compro um apartamento, e o Miguel Pinheiro, apesar de continuar na equipa B, veio viver comigo. Estivemos lá um ano a viver, no ano a seguir ele sai do Sporting e depois veio outro colega viver comigo, o Fernando Dinis, que jogava no Olivais e Moscavide. Fui sempre vivendo com colegas porque estava habituado a viver com amigos. Em 2007 vou para o Reggina.

Foi sozinho?

Sim. Foi outra grande mudança porque estive dez anos no Sporting e sair de um clube passados tantos anos não é fácil, principalmente para um país estrangeiro. As coisas inicialmente correram muito bem. Estava a jogar, era aposta do treinador. Mas começou a doer-me o joelho mesmo antes de começar o campeonato. Era uma dor insuportável e acabei por não conseguir estrear-me na Serie A. Vim ser operado a Portugal, ao tendão rotuliano, pelo Dr. Pereira de Castro. Quando voltei, passados quatro meses, começaram a fazer-me pressão: "Tens de jogar, tens de jogar. Contratámos outro lateral e esse lateral não está a corresponder, tens de treinar". Comecei a treinar ainda cheio de dores e voltou outra vez uma dor insuportável.

Miguel Garcia fez todos os escalões da seleção nacional dos sub-17 aos sub-21, mas nunca jogou pela seleção A© D.R. Miguel Garcia fez todos os escalões da seleção nacional dos sub-17 aos sub-21, mas nunca jogou pela seleção A
O que aconteceu?

Rescindimos amigavelmente, mas não foi um processo muito fácil. O presidente complicou um bocado as coisas, começou a dizer que eu já vinha lesionado do Sporting. E era mentira porque eu fiz a pré-época toda, fiz uns nove, dez jogos amigáveis. Ele começou a meter a minha palavra um bocadinho em questão, mas lá rescindimos amigavelmente. Entretanto o meu empresário era o Paulo Barbosa e já tínhamos as coisas todas organizadas para ir para o Recreativo de Huelva, ele tinha o Martins e o Beto lá a jogar. Estava tudo acertado para quando recuperasse do joelho assinar pelo Huelva. Até fui para lá recuperar e tudo. Só que as dores não passavam e acabei por ir para a Alemanha.

Fazer o quê?

Fui ter com o médico do Bayern de Munique para ver o que me aconselhava. Fiz uma ressonância e ele diz-me que a ressonância estava igual àquela que tinha tirado antes da operação. Ou seja, a inflamação tinha voltado. Acabei por ser operado novamente, em Munique, fiz a recuperação quase toda na Alemanha. Entretanto o Rolão Preto e o Boloni ligaram-me. Sabiam que eu estava sem clube, a recuperar do joelho, e dizem-me para ir para o Standard de Liège. Fui, mais o Valdir, que também estava a recuperar. Estivemos os dois de outubro a dezembro no Standard de Liège e fizeram-nos uma proposta para ficar. Só que na altura pagavam 5000€.

Era pouco.

Eu pensei, viver na Bélgica por 5000€... Está bem que pagavam casa mas e o resto? Acabei por recusar a proposta. O Paulo Barbosa falou no E. da Amadora, mas naquele ano já não pagavam há uns meses e também recusei porque não queria ficar sem receber. Ainda estava naquela, já não jogo há um ano mas vou conseguir. Estava a pensar um bocadinho mal, mas foi a minha decisão. Eu não aceito, isto em janeiro, em fevereiro vou treinar à experiência para o Toronto, que estavam a fazer a pré-época em Miami. Era para ficar lá duas semanas, fiz uma semana e pouco, já tinha feitos jogos amigáveis e o diretor oferece-me três anos de contrato. Pagavam 15.000 dólares. E pensei, vou ficar por aqui.

Miguel Garcia esteve duas épocas no SC Braga.
Mas não ficou. Porquê?

No treino a seguir, uma bola dividida, lesão de grau 2 no ligamento lateral interno do joelho direito. Foi-se o contrato. Ainda não tinha assinado, era só de boca... . Disseram-me para voltar em julho e logo se via. Vim recuperar para a FisioGaspar e ligam-me do sindicato dos jogadores a perguntar se não queria fazer o estágio deles. Em vez de andar a correr sozinho, decidi ir. Fiz o estágio e os jogos amigáveis contra o Belenenses, o Beira-Mar...Havia muita gente conhecida. Eu estava com 26 anos, já ninguém acreditava em mim, pensavam o Miguel já foi operado duas vezes, o Miguel já não joga há um ano e tal, se o contratarmos vai dizer que lhe dói o joelho. O V. Setúbal não me quis, Leixões não me quis, o U. Leiria não me quis e por aí fora. Acho que fui oferecido a toda a gente e ninguém me queria [risos]. Falei com o Sá Pinto, que falou com o Jorge Costa para ver se me dava uma oportunidade. O Sá Pinto conhecia-me perfeitamente, sabia do meu valor. Eu disse-lhe que estava bem, que só precisava de uma oportunidade.

O Jorge Costa deu-lhe essa oportunidade.

É verdade. Estou-lhe muito grato até hoje, porque se não fosse ter ido para o Olhanense, não conseguia dar a volta por cima. Faço o torneio do Guadiana, jogamos contra o Benfica e contra o Anderlecht, as coisas correram-me muito bem e o Olhanense convida-me para assinar contrato.

Que tal o Jorge Costa como treinador?

Adorei, um espetáculo. Treinos super motivadores, muito próximo dos jogadores, muito disciplinador e exigente, claro. Foi o melhor plantel em termos de espírito de grupo, de união, que apanhei. Tínhamos o Ukra, o Castro, Rui Baião, Carlos Fernandes, Rui Duarte que era o capitão, o Ricardo Ferreira e o Veríssimo, guarda-redes. Era um grande grupo.

Quando vai para o Algarve já tinha casado. A sua mulher vai consigo?

Não, sempre sozinho. Ela estava a trabalhar em Lisboa. Engravidou na altura em que eu estava no Olhanense.

Esteve pouco tempo no Olhanense.

Faço seis meses no Olhanense e em janeiro recebo o convite do SC Braga. Estava em Veneza quando o Paulo Barbosa me liga a dizer: "Podes dar mais umas voltinhas de gôndola que temos aqui uma proposta". Pensei: "O que é que eu faço? O Jorge Costa ajuda-me e agora vou-me embora?" A primeira coisa que faço quando chego é falar com o Jorge Costa, explico-lhe a situação, digo-lhe que gostava de ir para Braga mas que se ele precisasse de mim no Olhanense eu ficava porque ele é que me tinha ajudado. Ele disse-me logo: "Eh pá, não. Estás a brincar? É a tua vida, é a tua carreira e de certeza que esse é o teu objetivo, voltar outra vez a clubes de topo, por isso não te vou cortar as pernas. Estás à vontade". E foi assim que fui para Braga.

Outra realidade.

Sim, um bocadinho. Acho que eles no SC Braga têm outra estrutura. Ao Olhanense faltava-lhe um bocadinho de estrutura não só em termos de staff, mas também de condições de treino. Eu que tinha estado no Sporting quando vou para o Braga não notei grandes diferenças.

Foi para Braga sozinho também?

Fui para Braga ainda sozinho nesses seis meses. O meu filho nasce em junho e depois já vieram comigo para Braga.

Como correram as duas épocas em Braga?

A primeira época foi um bocadinho intermitente, não joguei muito. Pensava que ia jogar mas... Foi a época em que ficámos em 2º lugar, eu faço uns oito ou nove jogos. Jogava o Filipe Oliveira, depois jogava eu. Quando fui para o SC Braga, como tinha levado um vermelho direto no último jogo, fui com um jogo de castigo. Era um SC Braga-Nacional, jogou o Filipe Oliveira e o SC Braga ganha 2-0.

Levou um vermelho direto porquê?

Foi num Olhanense-Benfica que até hoje me recordo. Foi um episódio com o David Luiz, fizemos um carrinho os dois, ele levanta-se primeiro, pisa-me a perna, e calca mesmo de propósito. Sempre fui um jogador muito agressivo, maldoso nunca fui. Mas sou muito vingativo. Ele faz-me aquilo mas o árbitro não viu. Numa jogada a seguir adianto a bola de propósito e entrei com os dois pés às pernas, raspei-o todo e levei vermelho direto. Ainda por cima estávamos a ganhar 2-1 ao Benfica e acabámos por empatar.

Estava a dizer que não era maldoso... Isso é ser o quê?

Não, aí fui vingativo. Nessas coisas fico um bocado "cego". Mas acabei por me prejudicar, a mim e à equipa.

Ao não fazer o primeiro jogo pelo SC Braga abriu a porta a que o Filipe Oliveira agarrasse o lugar.

Pois. Ele fez um grande jogo, fez a assistência para o golo e continuou a defesa direito. E eu só jogava às vezes. Na segunda época tive uma conversa com o Domingos Paciência. Disse-lhe que gostava muito de ficar no clube mas só ficava se fosse primeira opção. Porque na altura tinha falado com o José Fonte para ir para o Southampton, onde ele estava. Eles precisavam de um defesa direito. A mim interessava-me ficar em Braga porque íamos jogar a Liga dos Campeões e era importante. O Domingos disse que contava comigo para primeira opção mas não garantia que fosse titular. Fiz 36 jogos. Melhor era impossível. Fizemos Liga dos Campeões, ganhámos ao Arsenal, fizemos grande jogo com Shakthar, ganhámos os jogos ao Partizan, fomos à Liga Europa e fomos à final, eliminámos o Liverpool, eliminámos o Dinamo de Kiev, uns polacos do Lech Poznan, o Benfica e fomos à final com o FC Porto. Foi um ano histórico para o SC Braga.

Gostou de viver em Braga?

Adorei. Tirando a chuva, é uma cidade fantástica.

É daí que dá o salto para a Turquia.

A minha ideia era continuar no SC Braga mas com outras condições. Falei com alguns colegas, o Hugo Viana, o Paulão, mesmo com o Custódio, e todos eles tinham condições melhores do que as minhas. E eu era um jogador imprescindível. O presidente faz-me uma oferta de três anos mas ainda não era aquilo que eu achava que merecia e acabámos por não chegar a acordo. Entretanto surgiram propostas de vários sitios: Ucrânia, Turquia, Inglaterra. Eu tinha 28 anos, aquela era a altura ideal para fazer um bom contrato e para ganhar dinheiro. Foi o que fiz, fui para a Turquia.

Gostou?

Muito. Um país completamente diferente: a cultura, a comida, o futebol, os adeptos.

Do que gostou mais e menos?

Fora do futebol gostei muito da comida. Estava numa cidade pequena, Ordu, com pessoas super simples e humildes, os adeptos fantásticos. No primeiro ano vivi num hotel sozinho, no segundo ano fui viver com a família para uma moradia um bocadinho afastado da cidade e, quando fui lá para casa, as pessoas foram oferecer-me carne e bolos, para dar as boas-vindas. Havia aquela imagem de que na Turquia andava tudo tapado, havia bombas, violência e, afinal, nada disso. Gostei imenso.

E o futebol?

Adaptei-me bem. O treinador era turco e passado algum tempo veio o Héctor Cúper. A nível pessoal as coisas correram-me muito bem. Foram dois anos fantásticos. Joguei bastante.

O que fazia nos tempos livres, sobretudo no primeiro ano em que estava sozinho?

Estava todos os dias com o João Ribeiro, outro português que lá estava. Almoçávamos e jantávamos juntos, íamos beber café, à tarde ia cada um para o seu apartamento dormir a sesta. De vez em quando apanhávamos o avião para Istambul para passear e fazer umas compras.

Como surge o convite do Maiorca?

Surge porque começamos a ter problemas com os pagamentos na segunda época. Isso na Turquia é normal, até no Besiktas, no Fenerbahçe e Galatasaray estão cinco meses sem receber, é perfeitamente normal. Só que como na época anterior estivemos só três meses sem receber e naquela altura já estávamos há quatro ou cinco, começámos a entrar em conflito com o presidente. "Não paga, nós não vamos jogar". E foi isso que aconteceu. Nas primeiras oito, nove jornadas estávamos em primeiro com o Galatasaray e chegámos ao Natal com três meses de atraso e a meio da tabela. Falámos com o presidente. Ele pediu-nos para jogarmos à mesma, mas houve um jogo amigável e ninguém saiu [risos], toda a gente no balneário. Ele vai ao balneário: "Joguem e a seguir ao jogo vão ter ao meu gabinete que eu dou cheques a toda a gente". Fomos. Passou o cheque com três, quatro meses, ou seja, só podíamos pôr no banco em março. No ano anterior ele tinha feito o mesmo e as coisas correram na perfeição. Chegamos a março, ainda estavamos numa posição acima da linha de água, fomos todos ao banco e nada.

Vivia como?

A Turquia é um país que paga ordenados muito bons, só quem não tiver cabeça é que recebe e gasta o dinheiro todo. Vamos governando com o dinheiro que tínhamos. E, nessa altura, quando chegámos do banco, devíamos treinar à tarde, mas falámos com o Héctor Cúper. E ele disse logo: "Não, vocês não treinam, estou com vocês". Ninguém treinou, fomos para o jogo seguinte, que era importantíssimo, em casa, e empatámos. No jogo a seguir, fora, treinámos uma vez e perdemos. O outro em casa era contra o Fenerbahçe e ninguém queria treinar. O presidente chamou-me porque era o único que falava inglês e espanhol e havia três sul-americanos e três espanhóis na equipa. Queria que eu os convencesse. "Presidente, você não paga como é que quer que eles joguem? Eles vão-se embora e eu também". Eu até já tinha renovado contrato para a época a seguir. Um dos espanhóis chegou a dizer-lhe: "Você não paga, vamos descer de divisão". Mesmo assim, à frente de toda a gente. Bem dito, bem feito. Os espanhóis deixaram de jogar. Eu ainda joguei mais dois ou três jogos. E na Turquia se não jogam os estrangeiros nota-se logo a diferença, principalmente em equipas mais pequenas em que os turcos não têm tanta qualidade. Acabámos por perder os jogos todos, descemos e ficámos com vários meses em atraso.

Nunca os recebeu?

Não. Eles desceram e nunca mais recuperaram, nem sei se ainda existem. E vou para o Maiorca.

Como?

Através de um colega que estava comigo no Orduspor, que era o Agus. Ele foi para o Maiorca, perguntou-me se já tinha arranjado alguma coisa, disse-lhe que não e entretanto surge a proposta, que era muito boa e que acabei por aceitar.

Que tal Espanha?

Dos clubes onde estive foi onde gostei menos de jogar.

Porquê?

Acho que os espanhóis são muito... como hei-de dizer... Não sei se são racistas ou se são patriotas, mas acho que eles não se dão muito bem com o sucesso dos estrangeiros. Temos um grande exemplo que é o Ronaldo, o melhor jogador do mundo e quando saía do Bernabéu e jogava noutros campos era assobiado. Acho que isso diz muita coisa.

A familia foi consigo?

Inicialmente fui sozinho e depois foram lá ter. A minha mulher engravidou do nosso segundo filho, o Lucas, em Espanha. As coisas não me correram muito bem, lesionei-me, depois veio outro treinador que punha um médio a defesa e comecei a desmotivar-me. Mesmo em relação aos colegas, não me identificava muito. Fui um bocado abaixo, por isso mesmo durante a época já estava a pensar em tentar arranjar outros clubes.

Veio para Portugal ou foi diretamente para a Índia?

Fui diretamente para a Índia. O Lito Vidigal estava no Belenenses, ligou-me para ir para lá, mas quando me abordaram a primeira vez ofereceram-me pouco dinheiro. Gostava muito de ir para lá, como a minha mulher estava grávida até preferia ficar em Portugal, só que ganhar tão pouco e voltar ao campeonato português não me estava a apetecer muito. O que eu queria era ir para as Tailândias, as Índias, Chinas, outra aventura em que conseguisse ganhar mais e ao mesmo tempo estar motivado e ver outro tipo de futebol. Surgiu a proposta da Índia. Acerto tudo com eles e vem o Belenenses mais tarde com uma proposta muito melhor, voltei a dizer que não. Quando fazem a terceira proposta, bastante aceitável, já eu tinha assinado contrato com a equipa indiana. Ainda bem que fui.

Porquê?

Foi das experiências melhores que tive no futebol. Porque é tudo completamente diferente. Como sou uma pessoa aventureira e gosto de conhecer novos países, novas culturas... Chego à Índia, uma humidade terrível, comida cheia de picante, gosto muito, pessoas completamente diferentes. Fui sozinho à descoberta e às vezes dava por mim a dizer: "Como é que um gajo do Alentejo está aqui, no fim do mundo" [risos]. Fui para uma cidade nas montanhas, Shillong, que dava para ver mesmo o que era a Índia. Não era Mumbai [Bombaim], nem Deli, nem Goa, era Shillong, nas montanhas. Levei não sei quantas horas para lá chegar, ainda havia estradas em terra batida, a carne era vendida na rua, pendurada como roupa. Viviam como se calhar vivíamos há 100 anos. Mas isso tudo visto ao vivo, eu gostava, adorava o que estava a viver naquele momento.

Estava lá mais algum português?

Não. Na altura foram para lá dois espanhóis, o Capdevila e o Koke. Tínhamos um bom grupo. Fiquei a viver em hotéis. Vi muita pobreza também. Pessoas a dormir nas estações de comboio, a tomarem banho na rua... Faz um bocadinho de confusão mas é a realidade deles.

O futebol?

Muito mais fraco. Estava a jogar a central, fiz uma grande época. Estava nos 15 melhores da Super League. Agarrava na bola e ia por aí fora. Aquilo eram oito equipas, em 14 jogos, fiz 13, até dezembro. Depois passo para a outra liga, para a I-League, vou para o Sporting Goa, onde fiz 17 jogos em 20.

Gostou mais de Goa?

Onde eu estava era Shillong e Guwahati, cidades muito interiores, já perto da China, com muita pobreza e onde não se passa mesmo nada, Goa era diferente, fui viver para um condomínio com piscina.

O que faziam nos tempos livres?

Jogávamos às cartas, estávamos na internet, víamos filmes, séries... Estamos ali todos no hotel fechados. Mas viajávamos muito, de quatro em quatro dias estávamos em sítios diferentes. Goa é uma cidade muito mais tranquila, um bocadinho mais civilizada, onde encontrei alguns restaurantes portugueses. Um sitio muito mais tranquilo. Até tinha uma mota, porque andar de carro ali é complicado. Ia de mota para todo o lado, não havia muito trânsito, ao contrário de Mumbai e Deli.

Esteve sempre sozinho?

Sim.

Custava-lhe?

Um bocadinho. Na altura até levei dois amigos meus para passarem lá 15 dias cada um, porque estar sozinho também... . A partir das 8/9h da manhã já não se podia estar na rua por causa do calor. O que é que eu fazia? Fidelizei-me num hotel e às vezes quando acabava o treino ainda ia para o ginásio do hotel, fazia sauna, banho turco, jacuzzi, piscina interior e depois ia para a exterior, ficava um bocado ao sol, almoçava no hotel e à tarde ia para casa ver um filme ou uma série. E assim se passavam os dias.

Que séries viu?

Via o “Game of Thrones”. Vi as sequelas todas do filme "Fast and Furious". Via os Vikings, Spartacus [risos]... Depois volto ao North East United, e é quando vão o Simão Sabrosa e o Silas. Só que, no primeiro jogo, fiz uma rotura parcial do tendão de Aquiles e acabei por voltar para Portugal para recuperar. Entretanto as coisas complicaram-se porque pensava-se que era uma cirurgia simples, mas quando intensifiquei o treino voltei a romper um bocadinho do tendão e fui operado de novo. Ainda fiz uns treinos no Montijo, porque os treinadores eram meus amigos e já estava a 100% quando surgem duas propostas, para as Maldivas e Índia, mas nada se concretizou.

Depois de pendurar as chuteiras, Miguel Garcia tirou a licenciatura em gestão imobiliária© D.R. Depois de pendurar as chuteiras, Miguel Garcia tirou a licenciatura em gestão imobiliária
Foi muito difícil tomar a decisão de pendurar as chuteiras?

Nunca é fácil deixar de fazer aquilo que sempre fizemos na vida e que sempre foi a nossa paixão.

Já tinha pensado no futuro?

Já. A minha paixão sempre foi o futebol, mas fui adquirindo outra, a partir da minha primeira lesão no Reggina, quando tinha 24 anos, a área do imobiliário. Porque nessa altura vi a minha vida a andar para trás, pensava que nunca mais ia recuperar da lesão no joelho e comecei a tirar algumas formações em investimentos imobiliários, a ler alguns livros.

Acabou por fazer uma licenciatura em Gestão Imobiliária?

Sim fiz a transferência de curso do FMH para a ESAI [Escola Superior de Atividades Imobiliárias], isto ainda em 2009, quando estava no Olhanense. Comecei a tirar essa licenciatura que interrompi quando saí de Braga. Entretanto tenho um amigo de Moura, o Nuno, a área dele é advocacia, mas sempre gostou muito do imobiliário e acabou por tirar um mestrado em gestão imobiliária. Começámos a falar, íamos investindo a nível particular, e comecei a pensar que estava na altura de mudar de chip. Entrei mais a sério na área do imobiliário, quando voltei para Portugal.

Miguel Garcia com o advogado Nuno Garcia, amigo e sócio com quem criou uma empresa de gestão de investimentos e património imobiliário.
Terminou o curso?

Quando saí da Índia retomei os estudos, acabei a licenciatura e neste momento consigo colmatar a falta do futebol com esta área.

Trabalha para alguém?

Não, eu e o Nuno decidimos criar uma empresa, a Global Pro Kick, e começamos a fazer o que já vínhamos fazendo a nível particular, que era a gestão do património e investimentos, como empresa. Também temos a parte de consultadoria de investimentos.

Isso para o público em geral ou direcionado aos futebolistas?

Numa fase inicial nós fazíamos isto com as pessoas com quem tínhamos confiança, com os nossos amigos, até fazíamos pro bono, por prazer. Mas temos formação, somos dedicados, temos esta paixão, por isso decidimos criar a empresa, em 2017. Agora fazemos também para o público em geral e estamos a tentar ligar a parte do imobiliário à parte desportiva, à parte do futebol, através dos contactos que fui fazendo. Muitos jogadores gostam de investir no imobiliário, só que alguns investem sem saber, pensam: “Vou comprar aqui uma casa e vou metê-la a arrendar”. Não conhecem o mercado e às vezes compram casas em sítios que não são bons. Quando se diz que comprar casas é sempre um bom investimento, não é sempre assim. Nós podemos ajudar os jogadores de futebol a fazer bons investimentos. É isso que fazemos, assim como gerir o património deles. Também estamos com novos projetos na parte da gestão de eventos desportivos para 2019.

Nunca lhe passou pela cabeça ser treinador ou diretor desportivo?

Nunca ponho de parte nada em relação ao futebol porque sempre foi a minha paixão. Mas confesso que ser treinador não me cativa muito. Estar ligado ao futebol, mas noutra área, sim. Ser treinador não, até porque estive muitos anos fora, sem família e amigos e queria recuperar esse tempo perdido. Se voltasse à vida de treinos diários e jogos ao fim de semana e na incerteza de ficar permanentemente em Portugal, ia voltar tudo ao mesmo.

Os seus filhos reclamavam muito a sua ausência?

Acho que eles se acostumaram a viver sem mim. Tanto que com o mais novo, como esteve os primeiros dois anos sem mim, quando comecei a conviver com ele era difícil a aproximação nos primeiros tempos.

O que fez a nível de seleção?

Comecei nos sub-17 e fui por aí fora até à seleção B, mas nunca cheguei à seleção A. O Scolari chegou a falar comigo, disse-me para continuar a jogar e trabalhar que podia ser chamado, mas não fui.

Foi a sua maior frustração no futebol?

Era um sonho, como joguei ao mais alto nível. Mas na altura estavam na seleção o Paulo Ferreira e o Miguel, que eram titulares nas equipas e como jogavam bem e nunca estavam castigados ou lesionados... Eu era a terceira opção, como o Scolari me disse naquela altura, e nunca aconteceu.

Qual foi a sua maior alegria no futebol?

O que mais prazer me deu foi a chamada à primeira equipa do Sporting, ainda por cima num jogo com o Manchester United. Nunca tinha jogado com tanta gente no estádio e o sonho que tinha de criança estava a tornar-se realidade.

A maior frustração foi a seleção.

Não. Foram as lesões.

Quem eram os seus ídolos?

Figo e Van Basten. Cheguei a jogar contra o Figo quando ele estava no Inter.

Onde ganhou mais dinheiro?

Na Turquia e na Índia.

Além do imobiliário investiu em mais algum negócio?

Às vezes invisto em obrigações, ações, fundos de investimento.

Qual foi a maior extravagância que fez?

Comprar um Porsche. Cheguei a ter um 911 4S. Mas troquei pelo Porsche Macan que tem mais espaço. Tenho uma herdade no Alentejo, em Moura, que tem terra batida e com este já lá posso andar, quando levava o outro tinha de o deixar em Moura e pegar no carro de um amigo ou familiar.

É crente?

Sou, mas vou pouco à igreja.


FONTE: TribunaExpresso