Mbappé: o menino de ouro que se inspirou em CR7 faz 20 anos e tem o céu como limite

Estrela do PSG e da seleção francesa saiu da periferia de Paris, ganhou o mundo e hoje vive um sonho em realidade, mas conserva a alma de criança e a simplicidade como nos tempos em que vivia no subúrbio de Bondy: "Eu não me sinto uma pessoa extraordinária".

O ano de 1998 entrou para a história do futebol francês. A 12 de julho, Zinedine Zidane fez dois golos e Emmanuel Petit marcou mais um para selar a goleada da seleção francesa por 3-0 sobre o Brasil na final do Campeonato Mundial em França. Era o primeiro título mundial dos bleus. A 10 quilómetros dali, na comuna de Bondy, nos subúrbios de Paris, nascia, 162 dias depois, Kylian Mbappé Lottin. O "menino de ouro" completa esta quinta-feira 20 anos e o céu parece ser o limite para as suas façanhas nos relvados.

Para o jogador, nada mudou, sente-se talvez só "um pouco mais velho". Numa entrevista ao jornal "Le Parisien", Mbappé afirmou que o importante é sempre conservar a alma de uma criança e isto pode ser visto em sua forma de jogar e no seu estilo de vida. O assédio, principalmente após o Mundial, ainda é percebido com certa estranheza pelo craque, que se está a adaptar ao mundo das celebridades.

"Estou a tentar sobreviver e, no momento, penso que estou a conseguir [risos]. O que é estranho é que eu não tive a impressão de estar a fazer qualquer coisa de extraordinário. As pessoas dizem-me o contrário, mas só estou a viver o meu sonho. Eu sempre sonhei em ter esta vida. Eu queria ser futebolista assim como outros sonham em outras áreas. O futebol é algo que gera muita publicidade, atrai muitos adeptos e muita paixão. Mas eu não me sinto uma pessoa extraordinária", disse o jogador na entrevista.

Infância humilde nos subúrbios de Paris
Os primeiros passos no desporto foram dados na periferia da capital francesa. Aos 14 anos, ainda em Bondy, jogava à bola numa equipa treinada pelo pai, Wilfried, e conciliava os treinos no centro de Clairefontaine com as aulas no colégio de Rambouillet. A habilidade, a desenvoltura e a velocidade para atacar e marcar golos já chamavam a atenção. Cresceu num quarto rodeado por cartazes, revistas e jornais a estampar os feitos de Cristiano Ronaldo e não esperou nem uma década para estar lado a lado aos grandes nomes do futebol.

Há cinco anos, com o apoio da família, decidiu fazer parte de um projeto de formação do Mónaco e trocou Bondy pelo principado. Em 2014, um ano depois, o então adolescente de 15 anos topou o desafio lançado por Zidane e foi a Madrid conhecer a sede do Real. Lá, conheceu Cristiano Ronaldo e as instalações de Valdebebas, mas optou por continuar no Mónaco.

De promessa a realidade
Desde que estreou na Ligue 1, aos 16 anos, teve uma ascensão meteórica. Após boas atuações e um contrato profissional firmado até 2019, Mbappé foi convocado para o Europeu sub-19. Autor de quatro golos, concentrou os holofotes e passou ser disputado por diferentes clubes. Na época, o Manchester City ofereceu 40 milhões de euros pelo avançado.

Uma concussão no cérebro depois de um choque com um jogador no campeonato francês deixou Kylian fora de combate por um longo período. O protocolo dos médicos exigia tempo de recuperação, mas, quando voltou, tornou-se fundamental ao balançar com frequência as redes para o Mónaco. Precoce, começou a bater os recordes de Thierry Henry e ganhou a alcunha de "Petit Henry". A comparação com o astro de Arsenal e Barcelona era natural, no entanto era apenas uma questão de tempo para o miúdo de Bondy tornar-se protagonista da sua história.

Se há menos de três anos ele poderia passar desapercebido pelas ruas, a temporada 2016/17 veio definitivamente mudar os rumos da sua história. A defender as cores do Mónaco, o jovem foi apresentado ao mundo. Os 26 golos em 44 partidas, o título do campeonato francês e as meias-finais na Liga dos Campeões (6 golos em 9 jogos) colocaram o jogador na mira de grandes clubes europeus.

O arremate foi feito pelo Paris Saint-Germain. Uma transferência impressionante de 180 milhões de euros, a segunda mais cara da história. Titular absoluto do PSG ao lado de Neymar, Cavani, Draxler e Di Maria, Mbappé também impressiona pela humildade e sinceridade.

Explosão da carreira no Mundial
No Campeonato Mundial, usou a camisola 10 de craques como Platini e Zidane e foi uma das estrelas da seleção francesa capitaneada por Antoine Griezmann. Na sua campanha de estreia, Mbappé foi peça-chave na equipa e marcou quatro golos. Um deles na final, o quarto da vitória sobre a Croácia por 4-2. Foi eleito a revelação do Mundial e quando voltou a França, foi agraciado com a camisola 7 (número vago desde a saída de Lucas Moura para o Tottenham).

Só houve um adolescente a marcar numa final do Mundial antes do francês e foi ninguém menos do que Pelé, na altura, com 17 anos. O brasileiro marcou duas vezes na goleada por 5 a 2 sobre a Suécia na final do Mundial de 1958.

Mbappé, Pelé e Giuseppe Bergomi são os únicos jogadores sub-20 campeões do mundo. O italiano competiu no Mundial em 1982 aos 18 anos, sendo um dos destaques na vitória sobre a Alemanha por 3 a 2 na decisão do título mundial.

Os números refletem os valores a si atribuídos. Até o momento, tem 73 golos em 150 partidas oficiais na sua carreira. Na Liga dos Campeões, são 13 em 23 jogos.

Na cerimónia da Bola de Ouro deste ano, no Grand Palais, em Paris, o francês recebeu o troféu Kopa, prémio de melhor jogador do mundo sub-21. Marcas impressionantes para um jovem que representa o futuro do futebol e tem uma longa jornada para ser escrita.


FONTE: TribunaExpresso