«Brahimi foi o jogador mais chatinho que encontrei»
Depois de fazer carreira em clubes modestos no Brasil, Rodrigo Soares deu o tão desejado salto para a Europa e logo para o FC Porto. O lateral direito que agora representa o Desp. Aves abordou em entrevista ao Maisfutebol a experiência nos dragões, na qual trabalhou com Lopetegui e Peseiro.
Teve de se adaptar a um estilo de jogo mais intenso, passou de lateral direito para defesa direito, primeiramente com missões defensivas e só depois com autorização para incorporar o ataque, mas até foi no lado esquerdo que teve a primeira oportunidade.
Gostava de pelo menos ter feito um jogo na equipa principal dos azuis e brancos, e acabou por ser o Desp. Chaves a abrir-lhe as portas da Liga. Uma ambientação para atingir os níveis que evidencia ao serviço do emblema avense.
Como começou a jogar futebol?
Desde que me entendo por pessoa quis ser jogador de futebol. Comecei em Porangatu, em Goiás, na minha cidade natal nas camadas jovens da equipa local. Depois tive de me mudar para Goiânia, a capital do estado, onde joguei em alguns clubes como o Goiás, o Atlético, que disputam as divisões inferiores brasileiras. Considero que comecei mesmo nos sub-15 do Goiás, e fui profissional pela primeira vez em São Paulo, no União São João, de Araras.
Veio para Portugal em 2015, com 23 anos, foi o concretizar de um sonho?
Todos os jogadores querem jogar aqui na Europa. No Brasil então, se formos a pesquisar, quase todos querem jogar aqui. Tinha uma particularidade, como muitos, não passei por grandes clubes no Brasil. Vim direto de um clube pequeno para cá. Foi bom. Quando cheguei claro que tive muitas dificuldades de adaptação aqui ao estilo de jogo, mas seis meses de futebol resolveram isso.
Que dificuldades foram essas?
O estilo de jogo aqui é muito mais intenso, muito mais rápido e tático, também, algo que não existe muito no futebol brasileiro. Todos os jogadores quando vêm do Brasil sentem essa dificuldade, da velocidade da bola e até dos relvados, que são diferentes.
Veio para Portugal e logo para um clube grande, para o FC Porto. A proposta era para a equipa B ou pensava jogar na equipa principal?
Na verdade, quando me disseram que havia interesse, mesmo para a equipa B, não acreditei muito. Estar num clube considerado pequeno no Brasil e vir para o FC Porto, mesmo sendo um FC Porto B, já era um passo gigantesco. Claro que fiquei feliz e quando cheguei no FC Porto percebi que era um mundo totalmente diferente do que estava habituado, com jogadores de renome que via apenas na televisão e na playstation, foi especial. Depois de estar ali obviamente que queremos sempre desafios maiores e eu tinha vontade de ter feito pelo menos um jogo pela equipa principal. Não deu. Paciência.
A primeira época no FC Porto foi irregular, a que se deveu? Adaptação?
Sim, nos primeiros seis meses sim. Tive bastantes dificuldades, ainda para mais na minha posição. Defesa direito no Brasil e em Portugal parecem posições diferentes, é a mesma posição, mas com funções diferentes. No Brasil ataca-se mais e não se precisa de defender tanto, aqui tem de se defender primeiro para depois atacar. Foi algo em que tive muita dificuldade. Fiz poucos jogos nos primeiros seis meses, depois tive a oportunidade de jogar no lado esquerdo quando saiu o Rafa Soares, penso eu. O mister Luís Castro pôs-me a jogar, estive bem, e depois não me tirou mais. Acabou por ser uma boa época, fomos campeões.
Treinava na equipa principal várias vezes?
Sim, cheguei a treinar muitas vezes na equipa principal. Com o Lopetegui nem tanto, mas com o Peseiro fazia vários treinos consecutivos. Quando ele saiu renovei, veio o Nuno Espírito Santo e com ele não treinei tanto na equipa principal. Com o Peseiro, esse sim, treinei muitas vezes na equipa principal. Cheguei a fazer um jogo amigável, o último da época, em que alguns jogadores já estavam para as seleções. Marquei até um golo, mas esse foi o único golo e num amigável…[risos]
A meio da segunda época em Portugal mudou-se para o Desp. Chaves. Como foi encarado? Por um lado, foi para um clube da Liga, mas, por outro lado, deixou uma estrutura grande...
Foi um passo em frente. Estava no FC Porto, mas na II Liga. Já tinha feito uma época e meia e naquele segundo ano esperava que as coisas acontecessem mais, esperava ter uma oportunidade, um jogo na Taça da Liga ou assim, e não aconteceu. Quando surgiu a oportunidade de ir para o Chaves, para a Liga, um clube que na altura estava muito bem, nem pensei duas vezes e encarei como um salto na carreira, para disputar o melhor campeonato de Portugal. Não foi muito difícil a decisão, apesar de estar a sair do FC Porto. Achei que deveria ir e foi bom para mim.
Demorou a entrar na equipa, entrou e fez uma reta final com oito jogos. Correspondeu às expetativas?
Correspondeu. Cheguei a meio da época, tinha a consciência de que seria importante uma adaptação. Cheguei com o barco já em andamento, quando o mister Ricardo Soares me colocou a jogar depois joguei o resto do campeonato. Encarei como uma adaptação, para mim foi ótimo. Deu para me preparar para os jogos da Liga.
O segundo jogo em Chaves foi dramático, a meia-final da Taça de Portugal com o V. Guimarães. O que lembra desse jogo?
Foi um dos dias mais incríveis que tive no futebol. Apesar de ter acabado de uma forma frustrante, não passamos, mas foi daqueles momentos que vivenciamos no futebol que não voltam e não têm preço. Esse dia foi um deles. No primeiro jogo estive no banco, nunca tinha jogado na Taça de Portugal, portanto esse jogo foi a estreia. Acho que por fora ninguém acreditava que dessemos a volta, o Vitória estava bem... Marcámos no primeiro minuto, chegámos ao terceiro golo, foi uma loucura. Foi lindo. Depois o Marega fez um golo com muita sorte. No final estávamos ajoelhados no banco, no penálti do Braga, mas falhou. Toda a gente falha. Foi um dia inesquecível.
O que se pode esperar daqui para a frente do Rodrigo, ainda espera continuar a subir degraus na carreira?
É claro que todos os jogadores querem chegar ao nível mais alto que puderem. Comigo não é diferente, trabalho todos os dias para estar no meu melhor, sabendo que no meu melhor tenho mais hipóteses de estar num outro nível. Sou muito feliz aqui no Aves e com o nível que atingi, principalmente quando vejo de onde saí, mas não posso dizer que esteja totalmente contente. Quero chegar a outros níveis, gosto dos adeptos e de toda a gente que faz parte, mas a intenção é chegar a níveis mais altos, onde todos os jogadores querem chegar.
Qual foi o extremo mais difícil para marcar?
Já defendi com muitos extremos difíceis, aliás não há extremos fáceis. Amilton nos treinos? É difícil [risos], quando ele mete a bola na frente é muito rápido. Mas penso que o Brahimi é o mais difícil de defender, tem umas mudanças de direção muito rápidas e confunde um pouco o defesa. Para mim, na rotação, o Brahimi é o mais chatinho que encontrei.
FONTE: MaisFutebol